Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Corrupção escancarada

Confiante no poder dos pastores, Bolsonaro não liga para o azar nem para a Educação

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A cara de espanto do mito foi qualquer nota. Era março de 2020, quando a pandemia começava a mudar o mundo, e ele não estava nem aí, negando a gravidade da situação em conversa com a seita em frente ao Alvorada. Eis que um imigrante haitiano começou a falar: "Bolsonaro, acabou. Você não é presidente mais. Precisa desistir. Você está espalhando o vírus e vai matar os brasileiros".

Imigrante haitiano afirmando para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que o governo dele acabou
Imigrante haitiano diz para Bolsonaro que o governo dele acabou, em março de 2020 - Reprodução

Esta última era uma profecia fácil. Mas o jeito de Bolsonaro se comportar —incomodado, olhos baixos, mãos entrelaçadas na cintura— suscitou a esperança entre seus adversários de que aquele homem fosse o mensageiro de uma maldição às avessas, a qual impedisse o destino trágico do país: fome, inflação, desemprego, destruição ambiental, aparelhamento das instituições, orçamento secreto, corrupção. Sim, corrupção, cada vez mais escancarada.

Dois anos depois, ninguém sabe onde anda ou que fim levou o haitiano, e o presidente pode se reeleger. Dono de uma confiança suicida, Bolsonaro continua dando chance ao azar. Ao receber a Medalha do Mérito Indigenista, vestiu um cocar azul. O folclore político ensina que cocar dá azar, sobretudo se o candidato desrespeita o índio. Se a ave que cedeu as penas tiver morrido, o estrago é ainda maior. Na lista de quem usou o adorno e perdeu nas urnas estão Juarez Távora e Mário Andreazza. Tancredo ganhou, mas não levou. Ulisses Guimarães caiu em depressão. Sarney acatou a superstição, ao contrário de Lula e Dilma.

Bolsonaro é reincidente. Por duas vezes, em 2021, tirou fotos com cocares na cabeça, e sempre defendendo o garimpo em terras indígenas. Eu não me espantaria se ele desfilasse no meio da rapaziada do Cacique de Ramos no Carnaval de abril.

Contra vodus e pajés, o presidente pede que pastores lobistas orem pela graça da reeleição. São os mesmos que, sem cargo público, mandam na liberação de recursos do MEC e, em troca, exigem um quilo de ouro.

Bolsonaro na entrega da Medalha do Mérito Indigenista - Clauber Cleber Caetano/PR

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