Na Copa de 1994, Pelé fez um bico na televisão como comentarista. Vocês se lembram ou já viram o vídeo com o locutor Galvão Bueno esgoelando-se — "É tetra!" — abraçado ao craque.
Mas nem tudo naquela jornada foi festa. As análises de Pelé foram criticadas e até ridicularizadas durante as eliminatórias. Garoto-propaganda da Warner Brothers, cheio de compromissos ao redor do planeta, ele chegava para as transmissões na véspera ou no dia dos jogos. Além do efeito jet lag, não conhecia bem os jogadores nem o esquema tático da seleção. Sua especialidade era confundir nomes: Cafu acabava virando Cafuringa, como o ponta direita do Fluminense nos anos 1970. Uma vez, Romário, de quem a torcida exigia a convocação, foi chamado de Oldemário.
Lenda do jornalismo esportivo, eterno repórter do Jornal do Brasil, Oldemário Touguinhó era amigo de Edson Arantes do Nascimento, que batizara a filha dele. Pois eu estava com o compadre do rei num quarto de hotel em San Cristóbal, pequena cidade parada no tempo, na fronteira da Venezuela com a Colômbia, onde o Brasil, sob o comando de Parreira, enfrentaria os donos da casa (ganhou facilmente por 5 a 1).
Foi quando bateram na porta às três da madrugada. Fui abrir e tomei um susto: lá estava a majestade do futebol, vestindo o mais elegante e bem cortado terno azul que vi na vida. Diante do meu silêncio de admiração, perguntou: "Posso entrar? O Oldemário está?". Balbuciei: "Está tomando banho".
Pelé se dirigiu ao banheiro e encontrou o amigo nu e ensaboado até a alma. Ao vê-lo Oldemário arremessou o sabonete, dizendo de maneira carinhosa: "Você é rei pras suas negas!". Ágil, o maior jogador do mundo fintou o projétil e correu, de terno e tudo, para um abraço molhado que durou pelo menos dois minutos. Depois conversaram sobre o jogo, e descobri que as confusões protagonizadas por Pelé na TV deviam-se às explicações de Oldemário.
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