Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Nelson Ned e García Márquez, almas gêmeas

A solidão e os boleros uniam o escritor colombiano e o cantor brasileiro

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No excelente "Tudo Passará – A Vida de Nelson Ned", André Barcinski revela uma das muitas propostas irrecusáveis que o cantor recebeu ao longo da carreira: em troca de US$ 30 mil depositados em dinheiro vivo num banco de Miami, uma única apresentação no Palácio del Pueblo, em Havana. Mas havia um detalhe. Ele –que jamais escondeu suas posições políticas– não poderia falar mal de Fidel Castro. Impostando o vozeirão, Nelson respondeu ao representante do governo cubano: "Eu lhe ofereço US$ 35 mil para você calar a boca, voltar a seu país e dizer a Fidel que eu não canto para ditador".

Na época do convite para ir a Cuba, Nelson Ned –que poucos anos antes dava expediente em quatro boates por noite– era o artista brasileiro mais famoso no mundo. Mais do que Roberto Carlos e muito mais do que Caetano Veloso e Chico Buarque, alvos de seus ataques ideológicos.

Entre 1972 e 1985, o cantor de 1,12 metro de altura privou da intimidade de presidentes e chefões do tráfico, entre os quais Pablo Escobar e o general "El Negro" Durazo, um dos homens mais temidos do México. Com dores crônicas no corpo, entupiu-se de injeções de morfina e consumiu sexo, uísque e cocaína a rodo (depois entrou numa trip cristã).

Lotou duas vezes o Carnegie Hall de Nova York. Arrastou multidões na África e na América Latina, em especial na Colômbia, onde nasceu um de seus fãs mais ardorosos, Gabriel García Márquez. Barcinski mata a charada do sucesso ao mostrar que Nelson cantava para os excluídos e solitários.

Em retribuição ao carinho de García Márquez –amigo do peito de Fidel Castro–, o "Gigante da Canção" afirmava que seu livro de cabeceira era "Cem Anos de Solidão". Tudo a ver: o próprio autor comparava seu romance mais famoso a um bolero. Nos melhores momentos, a prosa de García Márquez é maravilhosamente brega, como se tirasse um sarro do bom gosto oficial. Como Nelson Ned.

Nelson Ned em foto do livro 'Tudo Passará: A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção", de André Barcinski - Divulgação

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