Álvaro Machado Dias

Neurocientista, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind

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160 milhões de deputados

Com a inteligência artificial, cada um poderia deliberar digitalmente sobre os assuntos que quisesse

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Álvaro Machado Dias

Neurocientista, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind

É possível usar uma combinação de inteligências artificiais (IAs) para mapear as próprias preferências e criar extrapolações aplicáveis a virtualmente qualquer assunto. Não se trata de tarefa simples. Muitas preferências nascem no ato da escolha, enquanto o modo de apresentação das opções afeta as deliberações.

Esses percalços impõem simplificações, como assumir que ordeno preferências de maneira lógica (se prefiro "A" a "B" e "B" a "C", irei preferir "A" a "C"), e considerar que a forma como pessoas parecidas comigo decidem frente a uma questão que eu desconheço dá indícios sobre como eu decidiria se instado a tanto.

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Sessão plenária na Câmara dos Deputados durante votação do pedido de urgência para o PL das Fake News, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress - Folhapress

Um sistema construído sobre essas premissas nunca seria perfeito, mas nada impede que nos desse a impressão de decidir tão bem quanto a gente. Operando, seria possível colocar os mais de 160 milhões de votantes no Congresso e outras instâncias decisórias formais e informais. Cada um poderia deliberar digitalmente sobre os assuntos que quisesse, deixando ao seu avatar a tarefa de extrapolar para todo o resto.

A democracia direta é um sonho cheio de percalços. O mais óbvio é que apenas os interessados numa pauta tendem a aparecer na "hora H", o que favorece decisões contrárias aos interesses da maioria. Sistemas de extrapolação decisória eliminariam essa distorção, além de reduzir os custos do Estado, mitigar negociações pouco republicanas e acelerar processos decisórios.

Na minha concepção, tais IAs deveriam ter papel limitado às instâncias decisórias informais. Porém, é razoável supor que muitos veriam na tecnologia uma oportunidade para eliminar o Legislativo inteiro. É aí que poderíamos meter os pés pelas mãos.

O papel da política não é apenas dar vazão às aspirações da maioria, mas estimular a construção de acordos sociais frente a interesses contraditórios, consolidando consensos provisórios. Parece pouco, mas ainda é isso que nos salva do autoritarismo. Quando disso nos esquecemos, corremos o risco de mergulhar na barbárie, seja ela tecnocrática ou não.

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