Em meio à escassez de doses de vacina contra a Covid 19 e do descontrole da pandemia no país, cancelar o Carnaval era a decisão mais óbvia. Contudo, no berço do maior show da terra, resistir aos encantos de uma aglomeração e ficar quieto no período tradicionalmente dedicado à folia exigiu demonstração de responsabilidade, solidariedade e empatia que nem todos se mostraram capazes de dar.
Faz tempo que o Carnaval vem servindo de válvula de escape ao permitir que, por alguns dias, o povo brinque, cante, dance e se divirta como quem vive uma fantasia. Pra tudo se acabar na quarta-feira, como cantou o sambista. Mas em meio à contagem progressiva de vidas perdidas para o vírus letal e implacável era de se esperar maior comedimento.
Porém o que se viu foram festas clandestinas de norte a sul. Tanto em bairros nobres quanto nas periferias, muita gente se aglomerou, sem máscara e sem medo. Como se não houvesse amanhã —e, para muitos, talvez não haja. O Carnaval da pandemia foi cancelado, mas as festas não.
Generalizações costumam ser tendenciosas, porém é difícil encontrar explicação para o negacionismo coletivo que passe longe do hedonismo, apesar dos maus exemplos dados por figuras públicas.
Pode até ser que quem passou o último ano arriscando a vida em ônibus ou vagão de trem e metrô lotados pra sobreviver se sinta merecedor de se arriscar também em troca de algumas horas de lazer. No entanto esse é um risco que ultrapassa a segurança da própria vida e tem efeito cascata numa sociedade onde a crise sanitária está desgovernada e não há imunizante disponível.
Empatia pode ser resumida como a capacidade de se colocar no lugar do outro. É preciso amor para ser capaz de sofrer com o luto que não lhe pertence e para renunciar a prazeres imediatos. Fazendo trocadilho com o bloco de carnaval carioca Simpatia é quase amor, que mobiliza foliões em Ipanema, o Carnaval 2021 demonstrou que empatia é quase amor.
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