Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Ana Cristina Rosa

Onde dormem as pessoas de cor?

Embora 'gigante pela própria natureza', o Brasil não encontrou espaço para abrigar negros

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As imagens do mar de lama que deixou um rastro de destruição e mortes no litoral norte de SP em razão da chuvarada me fizeram lembrar de quando o filho de uma conhecida, aos sete anos, disparou a pergunta: onde dormem as "pessoas de cor"?

Indagação perspicaz para uma criança nascida e criada em região nobre e acostumada a frequentar o clube social do bairro, bons restaurantes e escola particular. Por desfrutar do melhor da infraestrutura da cidade –oportunidade que, em geral, é negada aos mais pobres–, estava desacostumada ao convívio com pretos e pardos, já que a pobreza tem cor no país.

Embora "gigante pela própria natureza", o Brasil não encontrou espaço para abrigar os negros. No quesito moradia, o resultado é evidente na ocupação desordenada e irregular de locais precários, muitos deles áreas de risco.

Bombeiros e voluntários trabalham no resgate de vítimas dos deslizamentos causados por forte chuva em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo - Bruno Santos - 23.fev.23/Folhapress

De Norte a Sul, eis a origem das nossas favelas, palafitas, mocambos, alagados e periferias, todos erguidos sem infraestrutura adequada para habitação. Não por opção, e sim por falta de alternativa –é bom que se registre.

Aos historicamente abandonados pelo Estado, restou criar "soluções de contorno" para sobreviver. Pelo menos quatro milhões de pessoas moram em pontos mapeados pela Defesa Civil Nacional como de altíssimo risco para desastres.

A cidade é "para uns, ambiente de conforto, cultura e segurança [...] Para outros, a vida urbana é caótica, perigosa e hostil, sem direito a um mínimo de lazer e segurança", resume o economista Mário Theodoro, doutor pela Universidade Paris 1 - Sorbonne, no livro "A Sociedade Desigual".

A sucessão de vidas perdidas anualmente em tragédias que poderiam ser evitadas pela ação diligente do poder público é só mais uma evidência do apartamento racial da sociedade brasileira. Afinal, é em locais inseguros, insalubres, erguidos à revelia de planejamento urbano ou ao relento que dorme grande parte das "pessoas de cor". Até quando?

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