Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Ana Cristina Rosa
Descrição de chapéu Todas saneamento Dengue

A indiferença e a picada do mosquito

Delegar ao povo responsabilidade pelo combate à dengue é covardia

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Não é preciso ser especialista em saúde para saber que condições sanitárias inadequadas aumentam riscos de proliferação de doenças. A lista de enfermidades que se propagam em ambientes onde não há esgoto sanitário e água tratada inclui, claro, a dengue.

Até as crianças e os tolos sabem que larvas dos mosquitos que transmitem a dengue (da espécie Aedes aegypti e, em menor proporção, o Aedes albopictus) eclodem em água parada. Em 2024, a doença já bateu recorde e infectou mais de 1 milhão de brasileiros, causou mais de 250 mortes e levou pelo menos oito unidades da federação a declarar emergência em saúde pública. O cenário é grave.

Mosquitos Aedes aegypti presos pelo projeto "Aedes do Bem", que visa reduzir número de insetos transmissores da dengue em Campinas
Mosquitos Aedes aegypti presos pelo projeto "Aedes do Bem", que visa reduzir número de insetos transmissores da dengue em Campinas - Carla Carniel/Reuters

Porém, por mais assustadora que seja essa explosão de casos de um mal que chegou a ser erradicado do país, a situação não é obra do acaso. Tampouco deveria ser recebida com surpresa por governantes e gestores das áreas de saúde e infraestrutura. Afinal, um quarto dos brasileiros vive sem saneamento básico (Censo do IBGE), o que contribui muito para o acúmulo inadequado de água.

Importante destacar que pretos e pardos são 69% dos que não têm esgoto e 72% dos que vivem sem abastecimento de água adequado. Como a conexão entre moradia digna e saúde é inegável, daria para inferir quem está mais sujeito a contrair a infecção. Mas não é necessário deduzir quando existem dados oficiais do Ministério da Saúde apontando mulheres pretas e pardas como grupo populacional com maior registro de casos prováveis de dengue.

O Brasil se comprometeu a universalizar os serviços de esgoto e água tratada até 2033 por meio do marco legal do saneamento básico. Contudo está distante de atingir a meta. E um mosquito vem fazendo o país pagar com vidas o preço da indiferença.

Não deixar água acumulada no quintal ou no pratinho das plantas é uma prevenção importante que todos devem tomar. Contudo delegar ao povo responsabilidade pelo combate à dengue é, além de incorreto e injusto, covardia.

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