Ana Estela de Sousa Pinto

É correspondente na Europa. Na Folha desde 1988, já trabalhou em política, ciências, educação, saúde e fotografia e foi editora de 'Mercado'. É autora de 'Jornalismo Diário', 'A Vaga É Sua' e 'Folha Explica Folha'.

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Ana Estela de Sousa Pinto

Laboratório pesquisa como evitar conflitos em debates de temas polêmicos

Segundo pesquisadores, há troca de ideias quando assuntos são apresentados com nuances

Mais de 3.000 casais passaram pelo Laboratório do Amor criado pelo psicólogo John Gottman na Universidade de Washington em 1986. Suas conclusões são que 69% das brigas conjugais envolvem temas que se repetem, e a maneira de abordá-los faz muita diferença.

A experiência do Love Lab foi extrapolada, na Universidade Columbia, para o Laboratório das Conversas Difíceis. Lá, pesquisadores estudam como viabilizar debates sobre pautas polêmicas como aborto, livre posse de armas ou casamento gay.

Segundo eles, não há conversa possível se a questão é colocada de forma simples: contra ou a favor. Sentindo-se sob ameaça, o cérebro não gasta energia com a curiosidade.

Quando o assunto é apresentado com nuances e complexidade, porém, as reações defensivas se desanuviam e há troca de ideias. 

Não quer dizer que os participantes sejam demovidos de suas convicções, mas surgem propostas intermediárias, consensos, e aumenta o entendimento sobre os outros.

Um depoimento recente da colunista Monica Hesse, do Washington Post, é boa ilustração. Ela tentava convencer um conhecido de que os homens brancos não estavam sumindo dos comerciais de TV.

Em vão lhe mandou artigos e estudos. Resolveram medir as aparições por alguns dias. No decorrer da experiência, ela soube que o colega perdera para a ex-mulher uma disputa judicial sobre seus filhos e sentia um preconceito velado crescente contra homens brancos nos EUA.

Isso a fez repensar o assunto. 

Quando estava perto de concordar com o amigo, ele lhe escreveu. Após o experimento empírico, havia mudado de opinião.

Já no Brasil, vários degraus abaixo, os esforços americanos parecem um luxo. Chamada a opinar sobre o aborto pelo STF, a professora da UnB Debora Diniz passou a ser ameaçada de morte. A proteção que recebeu é medida pessoal. Não basta, como escreveu Janio de Freitas nesta quinta (26). É preciso identificar a autoria das ameaças e interrompê-las.

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