É erro mortal achar que “em time que está ganhando não se mexe”.
Se há algo de valor em disputa (dinheiro, poder e as infinitas combinações entre os dois), alguém vai estudar o vitorioso, entender seu segredo e criar uma estratégia para anulá-lo.
O líder que não antevê esse movimento e fica imóvel é engolido.
Não é por outro motivo que a posse de bola —que já foi critério de qualidade— valeu tão pouco nesta Copa.
Na mesma toada, pontas já encheram nossos olhos, desapareceram dos esquemas táticos e reapareceram com outra dinâmica, rebatizados de wingers.
Brilhou o poder dos meias criativos, e logo marcar no campo todo se impôs. Ação; reação.
Futebol arte, futebol de resultados, tiki-taka, retranca e contra-ataque, nada é a resposta definitiva, nada está definitivamente superado.
Nenhum descanso fica impune quando há competição —vale para o esporte, para os negócios, para a política.
As mulheres continuamos perdendo de goleada nesta Copa do Mundo.
32 a 0 nos técnicos das equipes.
99 a 0 nos árbitros das partidas.
86 a 14 na proporção de jornalistas credenciados.
Os números são só a face mais visível de um ambiente em que nem as oportunidades nem a receptividade são justas.
“A mulher sempre tem que provar que sabe do que está falando”, relata a repórter da Folha Camila Mattoso, que sabe do que está falando.
Ligada a esportes desde criança, assim que se formou passou a trabalhar em Londres com Andrew Jennings, repórter da BBC que investigou e noticiou grandes escândalos da Fifa.
Na Inglaterra, Camila cobriu a Olimpíada de 2012. De volta ao Brasil, fez jornalismo esportivo na ESPN, no jornal Lance! e na Folha.
Em 2016, mudou-se para Brasília e para o jornalismo político.
Nesta Copa, cobriu a seleção brasileira na Rússia e reencontrou o machismo com o olhar mais aguçado de quem saiu e voltou. “É estranho chegar aqui e ouvir as mesmas piadas, as mesmas brincadeiras. Quem está no meio nem percebe o quão preconceituoso o ambiente ainda é.”
As mulheres precisam continuar entrando. Mas quem sabe os homens também ganhassem se se arriscassem a sair um pouco. A mudar.
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