Ana Estela de Sousa Pinto

É correspondente na Europa. Na Folha desde 1988, já trabalhou em política, ciências, educação, saúde e fotografia e foi editora de 'Mercado'. É autora de 'Jornalismo Diário', 'A Vaga É Sua' e 'Folha Explica Folha'.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ana Estela de Sousa Pinto
Descrição de chapéu Eleições 2018

Nova política é ausência gritante nas convenções

Atuação bem-sucedida para arejar práticas e pensamentos não ultrapassa o varejo

Na faculdade de direito da USP, dois professores —um de 59 anos, outro de 75— viam um grupo de alunos estender uma faixa divulgando a “Semana do Lesbianismo”.

“No meu tempo, fazíamos política”, disse o mais velho.

“Fazíamos política partidária”, respondeu o mais novo. “Mas eles também estão fazendo política. Outra política”, ponderou.

Há evidências crescentes, não apenas no Brasil, de que jovens que se interessam por política almejam influenciar o debate e até mesmo assumir cargos públicos, mas estão desistindo de fazer isso pelas vias partidárias.

Cientista política, Ilona Szabó de Carvalho contou uma dessas histórias.

Fundadora de um movimento cujo objetivo é aproximar cidadãos da política e torná-la mais participativa, no final de 2017 discutiu seriamente a possibilidade de se candidatar nestas eleições

Não foi adiante.

Em duas colunas na Folha, relatou os motivos: os caciques partidários não abrem espaço para os novos; o sistema político funciona “como uma máquina de moer princípios, boas intenções e nervos”.

Não é impressionismo. Até regras como as que obrigam que 30% das vagas, do dinheiro e do tempo de TV sejam para candidatas mulheres são ignoradas, quando não burladas com candidaturas fantasmas

Como Ilona, toda uma nova geração de políticos —bem formada, crítica e talentosa— atua com sucesso para arejar práticas e pensamentos. 

Mas, por mais bem-sucedida que seja, seu alcance não ultrapassa o varejo.

Na ordem institucional que vigora, é da política partidária que sai quem decide as normas pelas quais o país funciona e, principalmente, como é repartido mais de R$ 1 trilhão de dinheiro público.

A partir desta sexta-feira (20), convenções vão escolher os candidatos a presidente do Brasil. Nelas, o silêncio dessa nova política será o aspecto mais gritante.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.