Ana Estela de Sousa Pinto

É correspondente na Europa. Na Folha desde 1988, já trabalhou em política, ciências, educação, saúde e fotografia e foi editora de 'Mercado'. É autora de 'Jornalismo Diário', 'A Vaga É Sua' e 'Folha Explica Folha'.

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Ana Estela de Sousa Pinto
Descrição de chapéu Copa do Mundo

O VAR foi pouco

Incentivos bem desenhados são uma forma eficaz e barata de obter resultados

Não restou dúvida de que o árbitro de vídeo (o chamado VAR) faz bem ao futebol. Usado 23 vezes nesta Copa, em 15 impediu que um time fosse injustamente prejudicado.

A mera possibilidade de que um lance seja revisto altera o comportamento em campo. O empurra-empurra na área fica mais arriscado; cai a recompensa das simulações. Só isso já melhora o espetáculo.

Como ferramenta para garantir que o maior valor na partida seja a qualidade do futebol, porém, o VAR ainda é pouco: a decisão continua exclusivamente na mão dos árbitros.

Concentrar poder permite, no limite, a venda de resultados. Investigação da Europol concluída em 2013 apontou 425 jogos com resultados vendidos em mais de 15 países, envolvendo € 2 milhões (R$ 9 milhões pela cotação de hoje) em propinas.

A solução não custa um centavo a mais e já está testada e aprovada no vôlei, no tênis e no futebol americano: os técnicos precisam ter o poder de desafiar o apito do juiz. O velho e bom contrapeso.

Incentivos bem desenhados são uma forma eficaz e barata de obter resultados, e a questão cresce de importância nas políticas públicas.

A firma que ganha pela quantidade de asfalto usada tem pouco interesse em manter as ruas livres de buracos. Da mesma forma, um hospital pode recusar um novo método que aumenta sua eficiência de atendimento porque a remuneração que recebe é fixa —mais atendimentos vão representar custos maiores, sem elevação na receita.

A situação não é hipotética, mostrou a Folha no dia 10/7. Ao adotar um novo modelo de gestão, a Santa Casa de SP elevou as cirurgias de 800 para 2.360 por mês. E isso agravou sua crise financeira.

Pagar por procedimento ou paciente atendido, porém, pode incentivar apenas a rotatividade.

Se o objetivo de um serviço público é atender mais, melhor e com menos custos, ele precisa ser desenhado para avaliar quantidade, qualidade e eficiência, e remunerar por todos esses parâmetros.
 

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