Angela Alonso

Professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Angela Alonso
Descrição de chapéu Censo 2022

Notícias políticas do Censo

Novo quadro populacional dá pistas sobre caminhos da esquerda e direita no país

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O ex do Brasil atrapalhou o Censo, mas os números não guardaram mágoa e na sua cesta informativa, trouxeram até boas novas para o seu algoz.

Uma notícia é que o país envelheceu. No Censo anterior, os brasileiros tinham filhos suficientes para replicar o volume populacional. Agora o quadro é outro. Foi-se a janela demográfica —muitos jovens, poucos velhos. Estamos na vereda de Europa, Japão e outras partes onde nasce cada vez menos gente, desequilibrando as gerações, com muitos avôs e poucos netos.

Pedestres circulam na rua 25 de Março, no centro de São Paulo - Zanone Fraissat - 19.mar.2022/Folhapress

O descenso da fecundidade começou aqui nos anos 60 e foi rapidíssimo. Meio século depois, a taxa de crescimento médio anual é de 0,52%. Isto é, o país conta agora com metade dos brasileirinhos necessários para substituir os brasileirões. As mulheres em idade reprodutiva estão tendo poucos filhos ou nenhum. O país da juventude agrisalhou.

E a política com isso? Se nas eleições futuras a distribuição geracional do voto de 2022 se mantiver, a direita pode comemorar. Na última eleição, a juventude apertou muito o 13, e os cabeças brancas foram mais de 22. No médio e sobretudo no longo prazo, a diminuição do número de jovens pode estreitar o eleitorado de esquerda.

A mudança na pirâmide etária também garante assunto para opor direita e esquerda nos próximos anos. O coquetel de menos mãos juvenis para o trabalho com mais bocas de aposentados impacta em cheio a Previdência. O sistema de saúde, de seu lado, será pressionado pelas doenças que envelhecer acarreta.

Tudo com custo. O lustroso calcanhar de Aquiles do Estado de bem-estar social é o financiamento. Quem vai pagar a conta? Capaz da esquerda defender mais taxação. O outro lado deve entoar a ladainha liberal do governo enxuto, argumentando que as políticas sociais são economicamente insustentáveis. O Censo não é mapa astral, mas prediz esses dois litígios políticos, em torno de assistência médica e de aposentadoria.

A questão de gênero igualmente promete, dado o resultado censitário. O mulheril ultrapassou o contingente masculino em quase quatro milhões. A diferença existia, mas saltou um quarto desde 2010. Como elas votaram mais no presidente atual do que no ex, seguida a tendência, é notícia boa para a esquerda.

Já na distribuição regional da população, o quadro é róseo para a direita. Segue a concentração no Sudeste, líder na arte de espremer gente, residência de 41,8% dos brasileiros. Em São Paulo, houve muito voto para o ex, como para o carioca que virou governador dos paulistas.

Outra sede do fã-clube, o Centro-Oeste, aumentou seu povo, com destaque para Sinop, a "capital do Nortão", que cresceu 4,69%. Roraima e Santa Catarina cresceram menos, mas acima da média nacional. Nestes estados, o ex ganhou de lavada, com quase 70% dos votos.

O Nordeste, onde o PT estourou a boca do balão, tem apenas cerca de um quarto dos nacionais (26,9%) e foi a região na qual a natalidade, antes alta, mais caiu, bem acima da média do país.

Ainda falta muito por saber. Estão por divulgar dados cruciais para entender as consequências políticas do Censo, os relativos ao formato das famílias e à religião dos brasileiros. Essas informações sinalizarão melhor para onde a balança política pode pender. O que está público até aqui aponta um país mudando. E a direção da mudança leva mais água para o moinho da oposição do que para o do governo.

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