Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto

Fato e fake

Atribui-se ao presidente Michel Temer toda a desgraça de 2012 a 2016

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O presidente da República, Michel Temer, durante evento em Brasília, em agosto deste ano
O presidente da República, Michel Temer, durante evento em Brasília, em agosto deste ano - Evaristo Sa - 24.ago.18/AFP

É fato, não fake, que 2016 encerrou uma das piores décadas de crescimento do PIB per capita do último século! 

Tivemos um robusto crescimento com inflação relativamente moderada até a década dos 80 do século passado. 

A crise do petróleo (o Brasil importava 80% do seu consumo) produziu uma grave deterioração das condições internas. O crescimento decenal per capita despencou de quase 7% no final dos anos 70 para menos de 2% (sob uma ameaça de hiperinflação) até o sucesso extraordinário do Plano Real (1995). 

É importante lembrar que o Brasil foi o primeiro país a resolver seu problema de balanço de pagamentos, em 1984, graças a uma grande recessão, e o último a renegociar a sua dívida, dez anos após um estúpido “default”, já no excelente governo Itamar Franco (1992-1994).

É fato, também, que o sucesso do Plano Real foi melhor para reeleger FHC do que para retornar ao crescimento decenal. Este andou sempre às voltas de 1,2% ao ano, até um pequeno surto no governo Lula, ajudado pela boa administração da economia e um presente externo (a melhoria das relações de troca). 

Lula soube aproveitá-los e distribuir (um misto de fato e de fake), que é a principal razão do “sebastianismo” que hoje o cerca.

De qualquer forma, não é possível ignorar que o governo Lula adquiriu outro caráter quando Dilma Rousseff, então na Casa Civil, sabotou o desejo de seu chefe. 

Ele havia manifestado ao ministro Palocci (e há testemunha viva) que queria criar as condições para o estabelecimento do equilíbrio fiscal sólido, com uma relação dívida/PIB que possibilitasse uma ação fiscal enérgica se, e quando, a demanda privada esmorecesse.

“Esse programa é rudimentar”, disse ela furiosa à imprensa. E definiu a sua filosofia: “gasto é vida”, da qual, seja reconhecido, nunca se afastou a partir de 2012 quando dispôs livremente do poder para fazê-lo.

Não é sem motivo, portanto, que o decênio terminado em 2016, todo ele dominado pelo PT, registra um dos menores crescimentos do século. O curioso é que um “fake” produzido pela “esquerda desvairada”, de que se queixava Darcy Ribeiro, se transformou em um quase “fato”. 

Atribui-se ao presidente Temer toda a desgraça de 2012 a 2016! Temer começou muito bem. Foi desconstruído pela armadilha “JBSgate”, mas continuou a tentar as reformas imprescindíveis para a recuperação do protagonismo do Executivo, sem o qual a volta do crescimento é ilusão. 

Ainda agora, apesar de todas as resistências, tenta aprovar um conjunto de medidas que aliviarão o trabalho de seu sucessor, seja ele quem for. O deplorável é que o “incógnito” revela uma comprometedora falta de coragem...

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