Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Antonio Prata

Eu 2018

Adianto propostas do meu plano de governo: taxar selfies e usar esse dinheiro na Previdência

São Paulo

Ontem à noite, impelido pela desolação, me pus a refletir sobre os rumos da pátria, tomei umas Heinekens e, deixando-me levar pelas águas cristalinas que brotam do lamaçal da embriaguez, decidi me lançar candidato a presidente. A ideia ainda é nova, falta criar um programa de governo, mas já adianto aqui algumas propostas, nascidas do conluio quase sempre profícuo entre o lúpulo e a divagação.

Reforma tributária. É sabido que nossa engenharia tributária é velha, injusta e ineficiente. Desestimula a economia e encoraja a sonegação. Temos que pensar nos impostos com a cabeça no século 22, não no 19. Por isso minha primeira proposta é uma ideia roubada do brilhante pensador Daniel Bramatti: a taxação de selfies. Digamos, R$ 0,10 por selfie. Se houver pau de selfie envolvido, R$ 1. Foto de comida terá que pagar 5% do valor do prato mais os 10% do serviço (“nudes”, evidentemente, terão não apenas isenção fiscal como apoio da Lei Rouanet).

Adams Carvalho/Folhapress

Reforma política. Os nossos representantes não nos representam. Olhe para Brasília. Um bando de homens brancos de ternos cinza, velhos e conservadores —isto é, lutando para se conservarem no poder. Agora olhe para um bloco de Carnaval. Mulheres, homens, negros, brancos, ricos, pobres, heterossexuais, gays, trans, Chapolins Colorados, King Kongs e Elvises na fase gorda. Isso sim é um retrato da diversidade nacional. Minha proposta é colocar os blocos no Congresso e restringir a atuação dos partidos aos folguedos carnavalescos. Seremos muito mais bem representados por Bola Preta, Boi Tolo, Charanga do França e Vai Quem Quer do que por MDB, DEM, PTB, PT e PSDB (sem mencionar a revolução nas transmissões das TVs Câmara e Senado).

Reforma previdenciária. Só um doido nega o rombo na Previdência. Temos cada vez menos filhos e a medicina nos conserva até o último centavo. Acontece que esse pequeno número de jovens tira muito mais selfie e foto de comida do que os seus avós, de modo que a minha reforma tributária já garante a aposentadoria de todo mundo, sem mexer em direitos (a não ser que você considere selfie um direito. Selfie não é direito. Selfie é errado).

Controle de fronteiras. É muita terra abandonada por onde entram armas e drogas. Minha proposta é cavar um fosso do Oiapoque ao Chuí, encher de água e transformar em pesque e pague. A construção do maior parque pesqueiro do mundo vai reativar as nossas combalidas empreiteiras, vai dificultar a entrada de armas e drogas e alegrar a vida do idoso, não só pelos quilos de lambaris pescados (com o dinheiro das selfies dos netos) como pelo sentimento de utilidade ao ver-se patrulheiro de nossas fronteiras.  

Aborto: permitido só em casos extremos, como na situação de a mulher não querer ter o filho. Maconha: legaliza. Casamento gay: proíbe. Assim como o hétero. É evidente que o casamento não deu certo. Armas: libera tudo. E mete um imposto de 1.000.000% sobre o valor. A capital volta pro Rio. Entrega Brasília pro Mauricio de Sousa fazer um parque da Mônica. Troca o hino nacional por “Aquarela do Brasil” (ideia que meu pai defende há anos. Perdoem o nepotismo). Coloca “Amor” antes de “Ordem e Progresso” na nossa bandeira. Acaba com a CBF. Arena volta a se chamar estádio. Jorge Benjor volta a se chamar Jorge Ben. Lanche volta a se chamar sanduíche. E a tomada volta a ter dois pinos. Chega de mamata! Vote Antonio Prata!

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