Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Antonio Prata

Bolsonaro e as flexões de pescoço

Não está claro se ele não sabe o que é flexão de braço ou se não consegue fazer

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Adams Carvalho

Qualquer homem inteligente aprende cedo que exibições de virilidade são um tiro no pé, pois fica evidente para quem assiste que a necessidade de se mostrar forte é um sinal de fraqueza. Ao longo da história, porém, ditadores e líderes políticos não se furtaram a fazer uso marqueteiro de seus supostos dotes físicos. 

Mao Tse-tung costumava se deixar levar, boiando, pela correnteza dos rios, dando uma braçada aqui e outra acolá, sob o aplauso de multidões. No dia seguinte a imprensa publicava que o Grande Timoneiro havia quebrado recordes, nadado 10 ou mesmo 20 quilômetros. Vladimir Putin, atual presidente da Rússia, não perde a oportunidade de tirar a camisa ou de aparecer em cima de um cavalo. Figueiredo também curtia um cavalo, além de posar ao lado de seus halteres. Collor fez da corrida um evento de campanha.

Todo dia saía de casa para seu cooper diante de dezenas de repórteres, com mensagens políticas estampadas nas camisetas. Também se tornaram clássicas as imagens do exterminador de marajás com seu quimono de karatê ou macacão de piloto, num jato da aeronáutica.

É como se, uma vez que já não se pode mais recorrer ao direito divino dos antigos monarcas, a propaganda estatal tentasse ungir os líderes de outra forma, dando-lhes uma aura de potência infinita, uma compleição sobre-humana que justificaria a nossa submissão.

Soa ridículo, em pleno século 21. Mais ridículo, porém, do que as antiquadas exibições políticas de virilidade, só mesmo exibições políticas de virilidade malsucedidas. E é aí que nós chegamos a este happening macabro, a este Guiness dos Recordes da vergonha alheia, a este megafônico “o rei tá nu” que é o Bolsonaro fazendo flexão de braço. Ou melhor: o Bolsonaro NÃO fazendo flexão de braço. Ou melhor, ainda: ao Bolsonaro fazendo flexão de pescoço.

Não está claro se ele não sabe o que é uma flexão de braço ou se ele não consegue fazer uma única flexão de braço —o que não seria problema algum, visto que para governar um país não é preciso fazer flexões de baço, o enrosco é que em vez de governar o país ele resolve fazer flexões de braço; e não faz flexões de braço.

Já é a terceira vez desde a campanha que ele paga este mico em público: coloca-se no chão com os braços esticados e enquanto PMs, policiais civis, o Doria e até mesmo o General Augusto Heleno sobem e descem, vejam só, flexionando os braços, Jair ergue e abaixa a cabeça como uma galinha a ciscar o terreiro, enquanto grita “em cima! Embaixo! Em cima! Embaixo! Em cima! Embaixo!” —os gritos reforçam a tese de que ele não sabe do que se trata o exercício: afinal, ele acha que alguém fará uma flexão pro lado? 
Pra frente? Pra trás?

Bolsonaro se elegeu com o discurso do machão destemido que iria resolver os problemas do Brasil no muque, mas revelou-se um homem de meia idade apavorado com a posição que ocupa, acuado e incapaz de fazer uma flexão de braço. Eu diria que ele é o Tony Soprano tendo uma crise de pânico se ele algum dia houvesse se aproximado da liderança e do poder de um Tony Soprano. Bolsonaro, na verdade, lembra mais Christopher Moltisanti, o sobrinho do mafioso, um homúnculo com delírios de grandeza. 
“Sou priápico! Sou priápico! Sou priápico!”, grita o presidente, enquanto o país inteiro assiste à sua broxada.  

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