Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino
Descrição de chapéu Coronavírus

Brasil, rumo a 1 milhão de recuperados

Não pergunte o que aconteceu com os 50 mil brasileiros fora do Placar da Vida

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Com 1 milhão de casos confirmados de Covid-19 e cerca de 50 mil mortes, atingimos um patamar que pareceria absurdo meses atrás, agora corriqueiro. Com problemas políticos que fazem a maior pandemia do século virar preocupação secundária, cidades reabrem e retomamos atividades como se estivéssemos em março.

Mas precisaremos de um pouco de inferência para reconstruir a situação atual. A velocidade da luz é como nossa indignação, limitada. Então, quando você olha para o céu noturno, vê como as estrelas que nos iluminam estavam anos atrás, quando a luz que aqui chega partiu delas.

Se o Sol desaparecesse, notícia de segunda página no Brasil atual, os afortunados com quintal demorariam oito minutos para dar por falta dele. Olhar números brasileiros é como olhar o céu noturno de uma cidade grande: é impossível de ver tudo e o que vemos é uma imagem do passado.

Com a falta crônica de testes, estimativas variam de 7 a 12 vezes mais casos de coronavírus do que o registrado. E ainda temos o atraso entre os boletins municipais de casos e o consolidado pelas secretarias estaduais. Isso garante que o patamar de 1 milhão de infectados por Covid-19 foi atingido ainda no começo de maio.

Mortes são outra imagem atrasada. Entre óbito, diagnóstico de Covid-19, que leva dias, registro em cartório e comunicação dos órgãos oficiais, os números reais de mortes são entre 1,6 e 2,7 vezes maiores do que as registradas até então. O que diz que, ao atingirmos o patamar de 50 mil mortes registradas, o número real de mortes com diagnóstico fica entre 80 mil e 135 mil.

Ainda tem as mortes não diagnosticadas. Passamos por um surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) dezenas de vezes maior que de anos anteriores. Síndrome que atinge mais os grupos de risco para Covid-19, como homens acima de 60, cresce como Covid-19, mata com sintomas de Covid-19, mas atinge mais regiões que testam pouco para Covid-19. Como Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso.

Segundo a Lagom Data, temos uma morte por SRAG para cada duas a três mortes por Covid-19. Sobram mortos e falta diagnóstico. Considerando mortes por causas naturais (o que inclui SRAG), como o epidemiologista Otavio Ranzani estimou até o fim do mês de abril, o diagnóstico de Covid-19 explicava menos de 40% das mortes acima da média de anos anteriores.

E graças ao número desatualizado de SRAG e síndrome gripal no site do Ministério da Saúde, esse céu está cada vez menos visível. No seu lugar, entrou o placar da vida, com o animador número de vidas salvas de quem se curou.

Seguimos olhando para o pouco que dá. O crescimento de casos do Brasil aparenta ter se estabilizado. Na falta de um plano federal de ação coordenada, a explicação do que passamos só pode ser suposta. Pode ser pela ação dos líderes locais, pode ser pela maior conscientização dos brasileiros, pode ser que a Covid-19 siga a sazonalidade da gripe descendo de norte a sul do país entre abril e agosto.

Amazonas e Pará registram mais mortes na região Norte e tiveram uma queda contínua nas últimas semanas. Ceará e Pernambuco lideram casos na região Nordeste e passaram pelo mesmo. Mas no país como um todo, os números se balanceiam, pois os casos e mortes se estabilizaram na região Sudeste enquanto crescem no Centro Oeste e na região Sul.

A maioria dos novos casos já se concentra fora de capitais, onde logo devem causar mais mortes. Quando o país completa dois meses sem um plano e mais de um mês sem um ministro da saúde, registramos em média 30 mil casos de Covid-19 por dia, então em mais um mês podemos dobrar a marca simbólica do milhão.

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