Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino

Com mais de 400 mil mortos, precisamos ajudar a vacinação

EUA, Reino Unido e Israel mostram o benefício que as vacinas podem trazer para o fim da pandemia

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Em maio de 2021, EUA, Reino Unido e Israel mostram o benefício que as vacinas podem trazer para o fim da pandemia de Covid-19. Israel, que tem quase 60% de sua população completamente imunizada com duas doses, registra uma média móvel de menos de 2,3 mortes para cada 100 mil habitantes. Nos EUA, onde chega a um terço a população completamente imunizada, a média móvel ainda é de mais de 20 mortes para cada 100 mil habitantes, mas caindo. E no Reino Unido, onde a proporção de imunizados é menor do que nos EUA, o lockdown recente contribui para números tão baixos quanto os de Israel. Vacinação e fechamento fazem a pinça que está de fato contendo o coronavírus.

Já no Brasil, não vacinamos com a velocidade que poderíamos, se tivéssemos feito os acordos com Pfizer e Butantan que nos garantiriam 130 milhões de doses de vacinas em 2020. Nem fechamos o suficiente para nossa média móvel cair abaixo de 2 mil mortes registradas por dia. Ainda vemos números diários duas vezes piores do que o pior momento de 2020. São mais do que 110 mortes para cada 100 mil habitantes, ou 50 vezes mais brasileiros perdidos todos os dias do que em Israel e Reino Unido. Dois países que também passaram por ondas terríveis de casos e mortes, que também enfrentam variantes mais transmissíveis se espalhando, mas fizeram lockdown e vacinaram rápido. Já passamos de 400 mil mortes por Covid registradas, e várias estimativas de subnotificação apontam que os números reais passam de meio milhão. E não sabemos onde nossos números vão aterrissar.

No Brasil, também vemos efeitos da vacinação. Serrana, a cidade do estado de São Paulo onde mais da metade da população foi imunizada, já não tem nenhum paciente intubado com Covid há semanas. No Brasil como um todo, de acordo com um estudo recente, as mortes proporcionais entre idosos com maide de 80 anos vem caindo. Esse grupo etário que registrava quase 28% das mortes por Covid em janeiro de 2021 passou a concentrar por volta de 13% delas em abril. Sinal de que o aumento proporcional de hospitalizações e mortes de jovens representa, pelo menos em parte, a vacinação prioritária de idosos fazendo efeito.

Se não tivéssemos dispensado 130 milhões de doses ano passado, nossa situação poderia ser muito melhor. Elas não seriam suficientes para controlarmos completamente os casos. Isso quem faz são políticas públicas de testes, rastreio de contatos e fechamento estratégico que eliminaram o coronavírus do Vietnã e da Austrália, entre outros. O Chile já tem mais de um terço da população completamente imunizada, mas sem medidas de fechamento viu os casos subirem muito. Em abril, o Chile registrou quase 20% mais casos de Covid para cada 100 mil habitantes do que o Brasil. Mas vacinas são excelentes para salvar vidas. No mesmo mês de abril, proporcionalmente à população, quatro mortes de chilenos foram registradas para cada dez brasileiros perdidos para a pandemia.

Também importa quem são os vacinados. Outro estudo recente colocou em números a realidade óbvia que o professor Paulo Lotufo da FMUSP aponta há muito tempo: pessoas pretas e pardas ou mais pobres morreram muito mais de Covid, mas pela expectativa de vida mais baixa, elas ficam de fora do critério etário de vacinação. Incluir critérios socioeconômicos no plano nacional de imunização mostraria que essencial são os trabalhadores, não só o trabalho a ser feito.

Vacinas são um dos avanços da ciência moderna que mais salvou vidas. E seu desenvolvimento ágil durante uma pandemia é inédito. Em um momento onde muitas regiões brasileiras reabrem com números tão graves, controlar mais a pandemia até termos mais vacinas pouparia milhares de vidas. As pessoas precisam estar vivas para serem protegidas por elas.​

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