Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino
Descrição de chapéu Coronavírus

O inferno dos não vacinados

Vírus mais transmissível é como água em vazamento, que procura brecha

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Até a segunda metade de agosto, passaremos de 4,5 bilhões de doses de vacinas contra a Covid aplicadas no mundo. Aqui no Brasil estamos no meio do caminho entre os países mais ricos, que já vacinaram completamente a maioria de sua população, e os países mais pobres, onde pouco mais de 1% da população recebeu a primeira dose. Passamos de metade dos brasileiros vacinados com a primeira dose e menos de um quarto do país já completou sua imunização com duas doses ou uma vacina de dose única. Mas um cenário já começa a ficar bem claro: a vida de quem não se vacinou vai ficar cada vez mais difícil.

Nos EUA, o ritmo de vacinação caiu muito conforme sobraram principalmente aqueles que não querem se vacinar. Agora, o país que garantiu mais de 1 bilhão de doses de vacinas para seus quase 330 milhões de habitantes vê doses estragarem porque metade da sua população ainda não quis se vacinar. Essa metade do país que não se vacinou completamente vive em um inferno sanitário que concentra por volta de 99% das hospitalizações e das mortes por Covid. Todos os estados com os maiores números de hospitalizações por Covid estão entre aqueles com os piores índices de vacinação. Ao ponto que Louisiana e Flórida registram o maior número de hospitalizações por dia desde o começo da pandemia. E todos os estados que mais vacinaram concentram os menores índices de hospitalização por Covid.

Essa disparidade acontece por conta das pessoas cansadas, circulando e se aglomerando, e do vírus, que continua evoluindo. A variante delta tem se tornado predominante em grande parte do mundo e continua acumulando novas mutações que aumentam sua transmissão –a Ásia já registra casos da "delta plus". A Fiocruz também já registrou novas linhagens da P.1, com mais mutações, tomando o Amazonas. E os países vizinhos estão enfrentando a variante lambda, também perigosa.

Esse aumento de transmissão é o pesadelo atual. Um vírus mais transmissível é como a água em um vazamento no banheiro. Uma hora ele vai encontrar brechas e causar estrago. Seja essa brecha um vacilo de quem não usa máscara. Ou uma brecha de imunidade entre os vacinados. Resultados de regiões que testam bastante, como o Reino Unido, mostram que vacinados que são infectados pela variante delta continuam protegidos contra a Covid grave, mas produzem quantidades de vírus no corpo que são comparáveis às de não vacinados. Ou seja, vacinados infectados ainda devem transmitir o coronavírus, que continua circulando à espreita de quem não se vacinou.

Nos EUA, são as pessoas que escolheram não se vacinar que continuam vivendo nesse inferno de hospitais lotados e sem respiradores. Escolha que parece refletir um misto de alinhamento político com a falta de acesso à saúde e educação em geral. Já no Brasil, apesar do alinhamento político, a absoluta maioria da população quer se vacinar. Temos o potencial de superar os EUA em índices de vacinação e chegar em um controle melhor da pandemia. Aqui, é a falta de vacinas que continua matando. Como a Fiocruz alertou sobre o Rio de Janeiro, hospitalizações e mortes aumentaram entre os idosos, que são mais vulneráveis à Covid, mesmo vacinados. E continuam altas entre os mais jovens, que ainda não tiveram acesso à vacina, o que inclui crianças de 0 a 9 anos, que estão nos piores índices de hospitalização por Síndrome Respiratória Aguda Grave desde o começo da pandemia.

Esses são os que têm pagado o preço de o país ter priorizado vacinas de cambistas ao invés de vacinas seguras e eficazes testadas aqui.

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