Registramos por volta de 600 mil óbitos por Covid-19 no Brasil. Segundo as estimativas mais baixas de subnotificação (por volta de 20% dos números oficiais), já passamos de 700 mil mortos. É um número pavoroso, mas que poderia ser muito, muito maior.
Fomos poupados no começo da pandemia. Só registramos o primeiro caso do Brasil em 26 de fevereiro de 2020. Dez dias antes, segundo a análise dos primeiros 72 mil casos de Covid do Centro de Controle de Doenças da China, por volta de 2 chineses a cada 100 casos suspeitos ou diagnosticados haviam morrido. Uma taxa de fatalidade por casos do novo coronavírus de 2,3%. A China só não viu milhões de mortes porque o país fez lockdown e continua testando e controlando os casos desde então. Dado o histórico de pouca transparência do país, muitos questionaram os números. Mas o que aconteceu na Itália ainda em fevereiro sanou esse ceticismo justificável. Hoje, mais de um ano e meio depois, o Brasil registra uma taxa de fatalidade por casos de 2,8%.
E qual foi a postura do nosso governo federal frente a uma pandemia que sabíamos que seria tão letal? Substituir o ministro da Saúde e o corpo técnico que sugeria controlar os casos, priorizar medidas econômicas erradas com campanhas como #OBrasilNãoPodeParar e minimizar a doença. Sabendo que, mesmo se a letalidade real do vírus fosse metade da registrada na China, perderíamos mais de um milhão de brasileiros se não parássemos a Covid, o governo federal promoveu o contágio pelo vírus.
Mas os "maricas" ficaram em casa. Pelo menos até encontrarmos a falsa salvação que poderia levar as pessoas à rua: a cloroquina, a ivermectina e outros engodos. Promovidos pelo governo federal e seus cúmplices, esses medicamentos tiveram as vendas aumentadas em dezenas de milhões de embalagens em 2020, segundo a Anvisa. E enquanto as pessoas acreditassem nesse “kit Covid”, não exigiriam vacinas e o Ministério da Saúde poderia protelar a compra de imunizantes eficazes enquanto maquinava esquemas com cambistas e intermediadores de "vacinas privadas" que nos poupariam do atraso que o próprio governo federal criou.
Felizmente, estados, municípios, a imprensa e instituições públicas de pesquisa organizaram iniciativas próprias que nos mantiveram informados e trouxeram as vacinas que nos salvam. Na base da cloroquina, chegamos a uma média móvel de 3.000 mortes por dia. Com a vacinação, nossos números diminuem paulatinamente. Os primeiros a registrarem essa queda foram os idosos mais velhos, os primeiros a serem vacinados. Sem imunizantes, se ainda tivéssemos os números de abril, já estaríamos chegando a 900 mil mortes oficiais no país. Ou mais de um milhão de mortes com a subnotificação. Esse é o poder das vacinas que os "idiotas" pediam para comprar.
A ocupação de leitos hospitalares está baixa pelo país. Apesar dos engasgos no sistema de registros, vemos números cada vez menores de casos e mortes. E podemos esperar números ainda mais animadores conforme chegarmos em 70 a 80% da população completamente vacinada. Se tudo der certo, apesar da variante delta, chegaremos muito protegidos na temporada de gripe das regiões Norte e Nordeste —os últimos dois meses do ano, quando tivemos a segunda subida pavorosa de 2020. Pela primeira vez desde março do ano passado, apesar do esforço contrário e constante do governo federal, temos um horizonte favorável à frente.
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