Harvard confirmou: nada é mais relevante na felicidade das pessoas do que bons relacionamentos pessoais. Foram mais de oito décadas de pesquisa que deixou a amizade na frente de dinheiro, sexo, fama e poder.

Amigos de verdade nos traduzem. Sabem como simplificar o que a gente complica sem nunca nos deixar cair na banalidade. Nos acalmam, mas também nos confundem, nos perturbam, nos provocam. Nos fazem rir, mas também nos deixam chorar. São eles que nos fazem enxergar a nossa melhor versão, ao mesmo tempo que insistem em gostar de nós quando estamos na nossa pior versão.

Amigos nos fazem pensar e nos ajudam a não pensar: o bom amigo pensa por nós. Estão perto nas horas felizes e nas horas tristes, mas principalmente estão perto nas horas neutras, nos dias jeans e camiseta, nos dias em que não queremos festa, barulho nem conselhos.

E a gente confia tanto que quando está junto aumenta o volume dos pensamentos. Libera as mais rasas bobagens e os mais profundos sentimentos, que o amigo ouve, entende, sem distinção. Para eles abrimos segredos que nem sabíamos que guardávamos, nos desnudamos sem vergonha, entregando a nossa história, para que nelas eles se entrelacem.

Amigos têm um poder extrassensorial de captar os olhares, capturar os sonhos, compreender os silêncios. Têm o poder mágico da onipresença. Conseguem ser sinceros sem atalhos, mesmo que isso lhes dê mais trabalho. Porque amor de amigo não é um amor preguiçoso. Amigo de verdade nunca é mais ou menos.

Mas a amizade, para dar certo, tem que envolver pessoas um pouco diferentes e um pouco iguais. Conseguir filosofar ideias prosaicas, ter loucura e lucidez, ter um pé na areia e um pé no asfalto, ser comprometedora e libertadora, fútil e útil. Amizade das boas não tem medo de contradições, como tudo que é real na vida.

A amizade saudável é sempre jovem, moleca, nunca envelhece. Não tem hora certa, não tem frio nem calor para atrapalhar. Não tem desculpinha nem panelinha. Pode ter ciúmes, mas não pode ter inveja. O bom amigo torce por nós, consegue ficar feliz com o nosso sucesso, com a nossa magreza, com a nossa riqueza.

Temos os amigos de infância, da faculdade, da praia, da profissão, do esporte, do bairro. Os pais de amigos dos filhos que viram amigos, e os filhos dos amigos dos pais que viram amigos. Tem os 20 mil amigos nas redes sociais, mas esses não contam. Tem os amigos que moram longe e os que não estão mais aqui, mas continuam perto, dentro. Tem os novos amigos, que nos fazem querer voltar no tempo para ter sido nosso amigo desde criança.

Posso contar nos dedos das mãos os meus amigos. Não preciso de muitos amigos, sou feliz com meus poucos muito-amigos.