Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich

De Taylor Swift a Paul McCartney

Ex-Beatle segue uma fórmula previsível, mas ele pode, tem charme suficiente para renová-la

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Meu coração corintiano bateu mais forte na arena palmeirense Allianz Parque. Democrático, o gramado do estádio dá espaço para todos os times, gostos e idades. Recentemente, recebeu milhares de adolescentes "swifties" (um dos termos mais usados nas redes sociais em 2023) enlouquecidas pelo fenômeno Taylor Swift, que bateu recorde de público. Dizer que ela era uma desconhecida para mim —não tenho garotas em casa—, não é blasé, é uma confissão de idade. Este fim de semana foi a vez de outra tribo se emocionar na arena. Alguns levaram filhos e netos, mas o público era composto na maioria por pessoas, digamos, mais maduras.

O octogenário Paul McCartney —elegantérrimo, massa gorda de 1%— durante quase três horas, cantou, dançou, tocou cinco instrumentos, piano, violão, baixo, guitarra e ukelele, com um vigor invejável. Entre os tradicionais "oubrrrigadous", "sa-o paolos" e os moderninhos "bora galêra" e "mãno", o ex-Beatle se despediu com um "até breve" depois de uma pirotecnia de impressionar, deixando a plateia em êxtase. É verdade que Paul McCartney segue uma fórmula previsível em seus shows: as brincadeiras com a plateia, os trejeitos e as falas na língua do país que o recebe carregadas de sotaque. Ele pode, tem charme suficiente para fazer esses clichês chegarem até nós como novidade.

Paul MacCartney durante quase três horas, cantou, dançou e tocou cinco instrumentos
Paul MacCartney durante quase três horas, cantou, dançou e tocou cinco instrumentos - MPL Communications - 29.nov.23/Handout via Reuters

Mas deu saudades. Sim, dos Beatles, é claro, mas também dos shows que frequentei nos anos noventa. Deu saudades da música ao vivo em seu estado bruto, da época em que assistíamos olhando para as bandas e não para os telões, em que tínhamos as mãos livres para bater palmas, sem que o celular se interpusesse a elas. Era quase uma imersão, a atenção era plena ao que era naturalmente especial sem precisar de efeitos especiais: o contato íntimo e o diálogo entre nós e os músicos. Quem frequentou o Palace, AeroAnta, Projeto SP sabe o que foi viver isso.

Todavia, se tivéssemos estacionado nessas casas de shows, nunca teríamos a oportunidade de ter um ex-Beatle tocando para nós. Não teríamos a Inteligência Artificial para nos proporcionar o deleite de ver Paul cantar com John Lennon a música "I´ve Got a Feeling", em um arrepiante dueto em que a voz e a imagem de John Lennon aparece no telão, tirada de um vídeo restaurado da última aparição pública dos Beatles (1969).

O dueto (que em nada se parece com o de Elis Regina e Maria Rita na propaganda da Volkswagen que particularmente me incomodou) nos transportou para os anos setenta e fez quase 50 mil pessoas vibrarem como se estivéssemos lá. Mais de meio século depois, as músicas continuam a fazer sentido. Música boa não tem prazo de validade.

Até o seu próximo show no Brasil, deverão surgir outros fenômenos como Taylor Swift para enlouquecer fãs. Nas entressafras, Paul tem o seu lugar garantido.

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