Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Descrição de chapéu Inteligência artificial

Inteligência artificial, progresso econômico e desigualdade

IA já sabe fazer poesia, mas não aprendeu a amar

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O desenvolvimento da inteligência artificial tem disputado espaço com a Copa do Mundo nas redes sociais e rodas de conversa.

Há pouco, eram as imagens geradas por inteligência artificial que impressionavam pelo estilo e pela criatividade.

Nos últimos dias, o assunto foi a ferramenta ChatGPT. Lançada recentemente, ela consegue criar histórias a partir de sugestões dos usuários e dar respostas frequentemente razoáveis a perguntas diversas.

Ilustração Catarina Pignato

Desde que foi lançada, vários problemas e limitações dessa ferramenta foram apontadas pelos humanos. Ainda há muito espaço para melhora.

Ainda assim, vários textos e respostas impressionam e sugerem que esses novos modelos baseados em inteligência artificial poderão fazer parte relevante do trabalho feito hoje por humanos num futuro próximo.

Isso levanta uma série de questões (éticas, filosóficas, psicológicas...). Eu vou focar as questões econômicas.

Inovações tecnológicas têm dois tipos de efeito.

O primeiro é que a sociedade como um todo pode produzir mais ou trabalhar menos (ou uma combinação de ambos).

Pense numa família que gosta de fazer ilustrações para consumo próprio. Uma ferramenta que cria ilustrações substitui trabalho humano. A família pode usar a ferramenta para fazer mais ilustrações ou pode usar o tempo que sobra para produzir outras coisas ou para o lazer.

Esse efeito continua existindo num mundo em que as pessoas trabalham produzindo ilustrações para outros. Com a nova tecnologia, podemos ter mais ilustrações ou menos gente as produzindo (ou ambos). Fazemos mais com menos. Olhando para o todo, isso é bom.

O problema é que, nesse caso, menos gente produzindo ilustrações significa que quem trabalhava com isso perde o emprego ou tem sua renda reduzida. Uma habilidade desenvolvida com anos de estudo e trabalho perde valor.

Este é o segundo efeito das inovações tecnológicas: elas afetam o valor de mercado das diferentes ocupações e, portanto, a distribuição de renda.

Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos substituíram tarefas rotineiras, tornando menos valiosos trabalhos com remuneração menor e mais valiosos trabalhos mais especializados. Esse foi um fator-chave para o aumento na desigualdade de renda nos países desenvolvidos.

Idealmente, políticas públicas estimulariam inovações para aproveitarmos seus benefícios e ajudariam quem perdeu com os avanços para minimizar os efeitos negativos.

Isso, porém, é difícil. Há maneiras de reduzir a desigualdade ou compensar quem perde com o progresso técnico, mas essas são custosas e imperfeitas. Por isso, há quem defenda políticas que efetivamente reduzem o ritmo de progresso tecnológico que substitui trabalhos de baixa remuneração. Essa questão é importante e complicada.

Outra implicação dessa discussão é que políticas públicas devem estimular a formação de pessoas capazes de produzir num mundo com essas novas tecnologias.

O avanço da inteligência artificial traz aos holofotes essas questões, com algumas nuances. Uma delas é que, com o ritmo do progresso nessa área, é muito difícil fazer previsões para daqui a 20 anos.

Que ocupações ficarão a cargo de humanos, quais serão substituídas por máquinas? Que habilidades e conhecimentos serão demandados? Quais se tornarão pouco úteis?

Tentando achar pistas, pedi à ChatGPT que escrevesse poemas e falasse sobre suas limitações. Com alguns estímulos, ela respondeu algo mais ou menos assim: "Eu sou poeta e não aprendi a amar, não posso sentir o que você sente quando lê um verso que eu escrevi".

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