Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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O que esperar do ministro Fernando Haddad

As incertezas com o novo governo começam a se dirimir

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O que esperar de Fernando Haddad como ministro?

Haddad é um político que deixa marcas. Não é do tipo que toca a bola de lado.

No Ministério da Educação, Haddad modificou regras do Fies, elaborou o ProUni e assim expandiu muito o acesso ao ensino superior (a um custo), instituiu o Ideb para avaliar qualidade de ensino, dentre várias outras coisas.

Homem alto e magro de cabelos lisos escuros e levemente grisalho, de terno cinza escuro e gravata azul, camisa branca, une as mãos em frente ao corpo e olha para o horizonte, em direção ao canto superior direito da imagem
Fernando Haddad durante o anúncio de seu nome para o Ministério da Fazenda, nesta sexta (9), em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Como prefeito de São Paulo, ocupou manchetes com ciclovias e faixas de ônibus, criou a SP Negócios, instituiu uma ótima maneira de regular transporte por aplicativos (Uber), teve menos sucesso na tentativa de resolver o problema da cracolândia... é fácil se lembrar de muitas ações da sua gestão. Em contraste, quantos nem se recordam do nome do atual prefeito?

Essa sua característica deixa vários economistas apreensivos. Ele será um ministro ambicioso, não vai se limitar a fazer o básico. Em tese, isso pode ser ótimo e pode ser péssimo. Vários temem o pior.

Eu acho que ele vai acertar e errar, mas, otimista que sou, acredito que o saldo será positivo.

Há mais de um mês, ele tem buscado conversar com acadêmicos que conheço —e eu ficaria muito feliz de vê-los no ministério. Questões pessoais impediriam a maioria de aceitar um eventual convite. Mas me parece claro que ele quer em sua equipe pelo menos um economista acadêmico de linhagem "ortodoxa".

A questão do momento é o equilíbrio das contas públicas. Fernando Haddad entende que esse é um ponto importante.

Haddad não tem histórico de irresponsabilidade fiscal, mas desatar o nó fiscal é uma tarefa complicada, pois envolve negociações com o Congresso Nacional, a base aliada, o PT e até estados e municípios se o objetivo for mudar formas de tributação. O custo político é alto.

Uma preocupação de Haddad é a qualidade dos gastos do governo. No Ministério da Educação, ele instituiuo Simec, que visava justamente melhorar a qualidade dessas despesas.

Nas conversas, a questão da produtividade o preocupa bastante —corretamente. O equilíbrio fiscal é condição necessária para o bom funcionamento da economia, mas é o crescimento da produtividade que vai nos tornar mais ricos e prósperos.

A questão é como conseguir esse aumento de produtividade.

No passado, políticas como o crédito altamente subsidiado do BNDES ajudaram a piorar a situação fiscal, além de direcionar capital para setores menos produtivos. Ao que parece, Haddad não é favorável a esse tipo de medida, pelo menos nos moldes do governo Dilma.

Por outro lado, julgando por declarações antigas, Haddad parece acreditar que o Estado pode ter um papel importante em induzir desenvolvimento econômico. Não me é claro o que isso significa, nem como isso vai se traduzir em políticas públicas.

Parte das incertezas vai se dirimir quando forem nomeados os secretários do Ministério da Fazenda. Vale prestar atenção especial no secretário de Política Econômica.

O mercado financeiro vai por muito tempo ter um pé atrás com o ministro. Sua postura, digamos, pouco deferente em entrevistas e conversas não ajuda essa relação. Mas minha avaliação é que Haddad não será o problema desse governo na parte econômica. Outras nomeações me deixam mais insatisfeito.

O desafio é enorme. Haddad chega para apagar um incêndio e preparar o terreno para o crescimento. Terra ardendo, qual fogueira de São João. Ele gosta de desafios. Desejo que tenha muito sucesso.

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