Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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A mudança no imposto sobre fundos exclusivos

Fundos de investimento exclusivos existem para reduzir o pagamento de impostos

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Vai mudar a tributação sobre rendimentos de fundos exclusivos, aqueles que têm apenas um cotista.

Criar e administrar fundos de investimentos custa. Cada fundo tem seu CNPJ, seu processo administrativo e sua contabilidade. Então não faz sentido criar um fundo exclusivo para o pequeno ou médio investidor.

E para o grande investidor? Por que se criam fundos exclusivos?

Argumenta-se que fundos exclusivos podem refletir exatamente o tipo de estratégia que o investidor deseja. Essa não é uma boa explicação. Uma gestora poderia gerar o mesmo perfil de investimentos com uma combinação de fundos abertos.

No imaginário popular, esses fundos exclusivos, de milionários, renderiam mais porque o dinheiro seria aplicado em algo não disponível para o público. Isso não é verdade. Os ativos desses fundos também compõem a carteira de fundos abertos.

Então, por que eles existem?

Painel da B3, a Bolsa de São Paulo - Amanda Perobelli - 6.jul.23/Reuters

Era por volta de 1996 quando ouvi falar, pela primeira vez, em fundos exclusivos. Na época, havia muita demanda para aplicações financeiras com liquidez diária e prazos muito curtos, mas o governo não queria investimentos com prazos inferiores a 30 dias (o motivo é assunto para outro dia).

Por isso, determinava-se que o cotista que sacasse seus investimentos em fundos antes de 30 dias perderia o rendimento. O rendimento ficaria para o fundo. Para os outros cotistas.

Se eu sou o único cotista do fundo, o rendimento fica para mim! Eis a maneira de se criar um investimento que, na prática, tem liquidez diária. Assim, criaram-se fundos exclusivos.

Depois, o governo mudou a regra: resgates de investimentos com prazos inferiores a 30 dias pagariam um imposto (IOF). Em vez de ir para outros cotistas, o rendimento (ou parte dele) iria para o governo. Aí esse motivo para a existência de fundos exclusivos sumiu.

Hoje, fundos exclusivos existem para driblar outras regras.

Fundos exclusivos se enquadram em uma categoria que não paga imposto a cada seis meses; pagam só quando o dinheiro é sacado. Que vantagem isso traz?

Para facilitar a explicação, suponha que você investiu R$ 100, a taxa de juros a cada seis meses é de 10% e o imposto é de 20% sobre o rendimento.

Seis meses após investir, você tem um rendimento de R$ 10, mas R$ 2 devem ser pagos como imposto. Se a tributação incide a cada seis meses, você fica com R$ 108, que continua rendendo juros. Se o imposto é recolhido só no final, os R$ 110 rendem juros para você. No final, você terá que pagar os R$ 2 ao governo. A diferença é que os juros que esses R$ 2 renderam ficam para você (depois de pagar o imposto pelos juros do rendimento desses R$ 2).

Há algumas outras vantagens, mas já deu para pegar o ponto: esses fundos existem para driblar alguns impostos.

As mudanças propostas cortam esses atalhos legais. Fazem total sentido, mas são apenas pequenas correções.

Se a mudança é assim pequena, por que dizem que ela vai reduzir o número de fundos exclusivos? Porque para quem tem vários milhões de reais, qualquer redução no imposto compensa o custo de operar um fundo exclusivo.

Fundos de investimento exclusivo são como blocos do eu sozinho e exércitos de um homem só: contradições em termos sem razão fundamental para existirem.

Essa medida vem sendo ligada à taxação de grandes fortunas. De fato, há um aumento no imposto sobre o rendimento de quem tem muito capital. Mas essa medida é mais bem descrita como um conserto na regra do imposto atual, muito diferente das propostas de imposto sobre fortunas apresentadas nos últimos anos (PLP 50/2020 e PLP 101/2021, por exemplo).

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