Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Bernardo Guimarães

Fica para depois das eleições

Democracia é um sistema muito melhor que autocracia, mas está longe da perfeição

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Este ano é de eleições municipais. Portanto, medidas econômicas que podem custar votos ficam postergadas para 2025 (ou 2027). Isso é ruim, pois medidas econômicas benéficas para o país frequentemente custam votos.

Essa última frase parece estranha. Se as medidas são boas para o país, como podem ser ruins eleitoralmente?

Avaliar candidatos é uma tarefa muito difícil. Eu, que sou professor de economia e conheço muita gente que trabalha, trabalhou ou trabalhará com condução de política econômica, não me sinto suficientemente bem informado sobre os candidatos e o funcionamento do governo nessa área. E se o assunto não é política econômica, eu sei muito menos.

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Eleitora vota com cédula em 2020, em São Paulo, após problema na urna eletrônica - Rubens Cavallari/Folhapress

Eleitores, em geral, vão ter menos tempo que eu para estudar esses assuntos e conhecerão menos gente que participa dos governos.

Assim, votamos com pouca informação. Para piorar, alguns efeitos importantes de políticas na economia como um todo não são claros para o público em geral. É, portanto, natural que existam algumas políticas públicas benéficas para o país que pareçam ruins aos eleitores.

Políticos de olho nas eleições vão estar relutantes em propor essas políticas públicas. Medidas benéficas apoiadas pela população são logo aplicadas, enquanto as impopulares ficam se acumulando na espera de alguém com coragem para implementá-las.

Além disso, benefícios e custos de políticas públicas nunca caem sobre todos da mesma forma. Muitas medidas importantes têm benefícios difusos e custos concentrados. Por exemplo, estímulos fiscais a setores da economia beneficiam muito alguns e custam um pouco para muitos.

Os muitos que pagam o pequeno custo, ou não percebem ou não se sentem motivados a fazer muito contra a medida. Mas os beneficiados têm incentivos para financiar a propaganda dos candidatos favoráveis à medida. E, como o eleitor tem pouca informação, a propaganda é a arma do negócio.

Obras com faixa de propaganda de politicos em Parelheiros, em outubro de 2020 - Zanone Fraissat/Folhapress

O resultado é que políticas públicas que desagradam a grupos organizados e medidas que beneficiam a economia por canais pouco claros custam votos. O problema é que essas políticas são maioria no conjunto das que eu gostaria de defender na coluna.

Está bem, essas propostas custam votos, mas por que faz diferença o ano da implementação da política? O eleitor tem memória curta assim?

Ao que parece, o eleitor dá muito valor ao que acontece em tempos próximos à eleição —e até ao que observa no dia da eleição.

Nicolas Ajzenman e Ruben Durante mostraram isso estudando as eleições na Argentina de 2015. Macri, prefeito de Buenos Aires, era um dos dois principais candidatos a presidente —portanto, o responsável pelas escolas na capital do país.

Eleitora de Buenos Aires mostra o comprovante de voto, em 2015 - Luciana Granovsky/Xinhua

Na Argentina, a escola em que o eleitor vota, dentro de um bairro, depende da inicial de seu sobrenome. Ajzenman e Durante usaram isso como um mecanismo aleatório de alocar eleitores a escolas. Em razão da inicial do sobrenome, algumas pessoas votavam em escolas bem cuidadas, enquanto outras, que moravam na mesma rua, votavam em escolas caindo aos pedaços.

Eles mostraram que quem foi quase aleatoriamente alocado para votar em escolas malcuidadas tinha uma chance um pouco menor de votar em Mauricio Macri, o então prefeito da cidade. Uma pequena informação sobre o estado físico de uma escola em particular é suficiente para mudar votos.

A democracia é um sistema muito melhor que a autocracia, mas está muito longe da perfeição. Em razão dessas imperfeições, não deve ter muita coisa legal na agenda econômica de 2024.

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