Outro dia, li uma notícia maravilhosa sobre a inauguração do museu Cidade da Música, com acervo dedicado aos mais variados sons da Bahia, honrando e preservando esse nosso patrimônio cultural tão rico e importante.
A questão é que minha memória afetiva, completamente moldada por 1.001 noites de amor com “Milla” e demais xibom-bombons, me fez voltar à época em que sonhei ser museóloga do pop. Afinal, todo mundo sabe que ele não poupa ninguém (Do Hawaii, Engenheiros, op. cit.).
Quer se fazer de blasé? Vai nessa. A verdade estará sempre no seu paradão de sucessos particular. E, por mais que eu já tenha visitado o Museu Chopin e a Casa de Mozart, foi o Abba The Museum que me tocou.
Estive lá em 2013, logo após a inauguração, menos por nostalgia, mais curiosidade. A meu ver, museus são roteiros que você percorre de forma física. Só que a força da música pop se faz valer.
E a fila de visitantes estava longe de ser formada por apenas suecos de meia-idade.
Havia de tudo para todos — cabines psicodélicas de karaokê, trajes de veludo molhado, as botas douradas do Eurovision de 1974 e até um piano que toca sozinho. Isso sem falar dos hologramas, para quem ainda quisesse requebrar junto com A, B, B e A.
O público saía do museu embevecido, pleno de cafonice lúdica, cantarolando sucessos vertidos para trocentos idiomas do planeta. Eu mesma me peguei sentindo falta das nossas versões de “Pequenina” e “Fernando”, com Perla. E de “Dancing Queen” com Jane e Herondy. E fiquei pensando: por que não tem um lugar pop assim no Brasil?
Sem nenhum filtro ou noção, imaginei as musas em seu templo, chancelando o Museu de Arte Latina— referência internacional em festas no apê e em retratos impressionistas do macaco Twelves.
Depois, o Museu de Art Popular, com acervo de pagodes românticos dos anos 1990. Quando dei por mim, já estava rabiscando todo um conceito de É O Tchan Experience, com direito a ordinárias estátuas de cera do Compadre Washington e uma seção de artefatos do Tchan no Egito capaz de rivalizar com o Louvre.
Foi mais ou menos nessa etapa que percebi que era capaz de dar certo. Então parei. Melhor deixar isso tudo para curadores e arqueólogos do futuro, aí eles decidem o que fazer com nossos créus, bum-bum-tam-tãns e rebolations.
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