Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bolsonaro quer um ministro que dê verniz técnico a suas vontades

Presidente fingiu equilíbrio, mas logo provou que não vai abandonar convicções

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Há duas semanas, Nelson Teich afirmava que a conduta das autoridades de saúde no combate ao coronavírus era perfeita. O oncologista escreveu um artigo em que defendeu medidas de isolamento adotadas nos estados e atestou: “É a melhor estratégia no momento”.

O país ainda não chegou ao ponto mais crítico da pandemia, mas o doutor já mudou o tom. Depois de se encontrar com Jair Bolsonaro, ele evitou repetir a avaliação. “Chegar agora e dar uma opinião seria algo quase irresponsável”, disse, em entrevista ao SBT —enquanto o novo chefe o observava da poltrona ao lado.

O presidente Jair Bolsonaro e o novo ministro da saúde, Nelson Teich, no Palácio do planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

Depois de 11 dias de ameaças, Bolsonaro finalmente decidiu pagar o preço da demissão Henrique Mandetta. Livrou-se de um subordinado que o contrariava publicamente e escolheu um substituto com perfil técnico, mas aparentemente disposto a se adaptar a seus comandos.

O novo ministro estreou com um idioma mais parecido com o do presidente. Disse que não mudará a orientação de isolamento de forma brusca, mas indicou que essa será uma de suas missões. Alinhou-se ao discurso de Bolsonaro a favor da proteção da economia, embora já tenha indicado que a preservação de vidas deveria ser prioridade absoluta.

“Qualquer escolha e ação, seja ela da saúde, econômica ou social, tem que ter na mortalidade o seu desfecho final, por mais difícil que seja chegar a esses números”, escreveu o oncologista, no início de abril.

Ao anunciar o nome de Teich, o presidente tentou demonstrar equilíbrio, mas logo provou que não vai abandonar suas convicções. Em transmissão nas redes, ele insistiu que a política de saúde deve mudar e voltou a criticar o isolamento. “Tem que começar a abrir o comércio e voltar à normalidade”, repetiu.

O presidente não cometeu a insanidade de nomear um negacionista do coronavírus ou um vendedor de cloroquina, mas deixou claro o que espera da pasta. Bolsonaro quer um ministro que dê verniz técnico a suas vontades. Não se sabe se Teich vai cumprir esse papel.

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