Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bolsonaro conseguiu usar máquina do governo para mudar foco da campanha

Pacote eleitoreiro de benefícios ajuda a desviar atenções da economia para outros temas

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Um dos principais estrategistas da candidatura de Jair Bolsonaro, o ministro Ciro Nogueira revelou como o comitê da reeleição encara o segundo turno. "O tema dessa campanha não é economia", disse, em entrevista à Folha. "São os temas propostos por Bolsonaro, defendidos por ele."

Segundo o chefe da Casa Civil, o presidente já teve sucesso em levar a disputa para um terreno mais favorável. A exploração da agenda conservadora e os ataques de Bolsonaro à esquerda ganharam força no eleitorado, diz Nogueira, porque a economia não está "em ruínas".

A avaliação feita pelo ministro mostra como o governo planejou usar a máquina oficial e torrar dinheiro público com o claro objetivo de mudar o foco da corrida. A ideia era criar uma sensação passageira de bem-estar, anabolizada por benefícios temporários, e desviar a atenção do eleitor para falsas polêmicas e tópicos da agenda do presidente.

O comportamento de Bolsonaro reflete essa estratégia. Na campanha, o capitão fala muito de igrejas e pouco de economia. Quando toca no assunto, prioriza medidas como a redução do preço dos combustíveis ou a promessa de manter o valor do Auxílio Brasil —o que é necessário para reduzir a desconfiança em relação às bondades eleitorais.

Abastecido por novos empréstimos e benefícios antecipados para coincidir com o calendário da campanha, o eleitor sente algum certo alívio na economia e liga seu radar para outras preocupações (verdadeiras, como a segurança, ou falsas, como a liberação das drogas).

Nenhum auxiliar de Bolsonaro vai admitir que, para isso, ele pratica abuso de poder de forma contínua. Nogueira, por exemplo, diz que o eleitor está tranquilo com a economia porque "o Brasil é uma locomotiva". O presidente poderia até tentar emplacar a imagem na campanha, mas provavelmente pouca gente acreditaria, e ele perderia votos.

O pacote eleitoreiro e a aposta conservadora são a maneira que Bolsonaro encontrou para não ser julgado pelo governo que cometeu.

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