Uma diferença de tom marcou as referências que Lula fez aos militares e à Polícia Federal no anúncio de seus primeiros ministros. O presidente eleito criticou a atuação política de integrantes das Forças Armadas, mas pontuou que elas têm uma "missão nobre". Depois, o futuro ministro da Defesa falou em "apaziguamento" e disse que a transição será "a mais tradicional possível".
A PF recebeu um cartão de visitas mais áspero. Lula afirmou que era preciso "consertar o funcionamento" do órgão e que o governo não quer que policiais "fiquem dando shows nas investigações antes de investigar". O escolhido para o Ministério da Justiça disse que era necessário restaurar a hierarquia e a legalidade.
A politização das Forças Armadas e da Polícia Federal é um problema grave. Lula decidiu tratar a caserna como um vespeiro mais delicado. O petista calculou cada passo da escolha de comandantes e do ministro da Defesa porque os militares representavam um risco, mas a PF ainda pode provocar outras dores de cabeça.
As palavras de Lula e Flávio Dino (Justiça) indicam que o novo governo pôs um alvo no bolsonarismo e no lavajatismo que existem dentro da Polícia Federal. Os agentes e delegados não deixarão de ser bolsonaristas e lavajatistas de uma hora para outra, o que sugere que a tarefa de "consertar o funcionamento" do órgão prevê alguns conflitos.
A missão foi confiada ao delegado Andrei Passos Rodrigues, chefe da segurança de Lula e futuro diretor-geral da PF. Foi uma escolha pessoal do petista, o que deve dar ao novo chefe do órgão um apoio de peso, mas também o potencial de provocar resistências políticas e mal-estar dentro da corporação.
A PF não é um órgão coeso. Tem vários grupos de poder, que se organizam em torno de delegados experientes e ex-diretores. Rodrigues não se amparou em nenhum deles de maneira significativa. No passado, divisões internas já provocaram crises, perda de controle e sabotagem ao comando do órgão. O novo governo pode enfrentar essa ameaça.
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