Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Lula manda recados para amortecer início do governo

Petista tenta administrar expectativas e obter tolerância sobre as primeiras decisões do mandato

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Antes de receber a primeira pergunta na entrevista coletiva da última sexta-feira (2), Lula tentou preparar o terreno. "Eu estou convencido de que a situação do país não é das melhores", diagnosticou o presidente eleito. "Nós temos informações de que nós não teremos grande crescimento em 2023 se depender da política que está em vigor nesse país."

Lula já ganhou a eleição, mas ainda sustenta um discurso crítico a Jair Bolsonaro para amortecer o início de seu governo. Ao repisar a imagem de que a gestão atual deixa um cenário de terra arrasada, o petista trabalha para administrar as expectativas de seus eleitores e obter uma certa tolerância sobre as primeiras decisões de seu mandato.

Em outros dois momentos da entrevista, Lula adotou esse tom. Criticou buracos no Orçamento ("parece que eles querem deixar o país a zero") e reclamou das incertezas ("eu sei que eu não vou encontrar coisa boa"). "Mas eu sabia que ia acontecer isso, não posso agora dizer que está tudo errado", completou.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista coletiva na sede do governo de transição - Pedro Ladeira/Folhapress

O petista fez campanha com uma plataforma de recuperação econômica, distribuição de renda e retomada de programas negligenciados. Na transição, ele dá recados de que há dificuldades no caminho e que esse processo vai exigir escolhas que podem parecer amargas para alguns grupos (como a ampliação de gastos sociais, que contraria investidores).

É uma adaptação da lógica política que costuma ser seguida na aplicação de medidas de austeridade. Quando um governo precisa cortar despesas, ele consegue segurar apoio se a situação do país estiver ruim o bastante e se houver benefícios direcionados para determinados segmentos da população.

O presidente eleito aplica essa vacina para garantir ao menos algum período de lua de mel na estreia de seu governo. O petista sabe que subirá a rampa sob a rejeição firme de metade do eleitorado e a desconfiança daqueles que lhe deram um voto crítico no segundo turno. Tudo indica que os ponteiros da popularidade de Lula estarão sensíveis em 2023.

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