Quando foi torpedeado por petistas na briga dos combustíveis, Fernando Haddad disse que não era nada pessoal. O chefe da equipe econômica lembrou que Antonio Palocci também havia passado por maus bocados na primeira gestão de Lula, sob críticas de colegas de governo. "Isso é natural", sentenciou o ministro.
Palocci foi alvo de fogo amigo pesado. Economistas de esquerda diziam que sua equipe tinha infiltrados do mercado financeiro, intelectuais ligados ao PT fizeram um manifesto contra a política econômica e ministros de outras pastas falavam em buscar um plano B (o substituto favorito era Aloizio Mercadante), como conta Thomas Traumann no livro "O Pior Emprego do Mundo".
O ministro resistiu porque Lula controlou a artilharia. O presidente pediu que José Dirceu e Luiz Dulci, dois ministros fortes da cozinha do Planalto, acalmassem os ânimos no PT e dessem argumentos para a esquerda defender o ajuste de Palocci.
Haddad não passa tanto sufoco quanto o antecessor. O PT dedicou boa parte de sua energia a bater no presidente do Banco Central, e Lula deu uma vitória ao ministro no caso dos combustíveis. Mas a equipe econômica ainda enfrenta uma oposição incômoda.
Quadros influentes do PT e alguns ministros do governo não escondem a objeção a uma plataforma de aperto de gastos. É provável que esse grupo faça jogo duro contra mecanismos de controle de despesas da nova regra fiscal.
O governo vive situação curiosa. A ação mais consistente de resistência à política econômica é feita pela esquerda, em especial pelo partido do presidente. O PT encontra espaço e desenvoltura para assumir esse papel pela ausência, até aqui, de uma oposição organizada a Lula.
Enquanto não houver um bloco sólido de centro-direita que faça contraponto à agenda do governo, os riscos de Lula no Congresso partirão principalmente da bancada fluida e negocista do centrão. A oposição bolsonarista, por enquanto, é uma assombração.
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