Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Descrição de chapéu Folhajus

Sepultura da Lava Jato se mantém como altar de disputas políticas

Afastamento de Eduardo Appio contribui para autópsia de operação que nasceu e morreu como joguete

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O afastamento do juiz Eduardo Appio deu à Lava Jato mais um atestado de óbito para sua coleção. O conflito entre o magistrado responsável pelos processos em Curitiba e os desembargadores do TRF-4 contribui para a autópsia de uma operação que nasceu e morreu como joguete de vontades políticas.

A Lava Jato já estava morta quando Appio assumiu a função, em fevereiro. Os excessos cometidos pela força-tarefa desde as etapas iniciais, os arranjos revelados pela Vaza Jato, as sentenças anuladas, os acertos do mundo político para frear investigações e a aliança com o bolsonarismo cavaram esse túmulo.

A longa marcha fúnebre começou na origem de uma operação que se alimentava do voluntarismo e aceitava exibir uma indisfarçável motivação política. No artigo em que lançou as bases da Lava Jato, Sergio Moro descrevia a tarefa de corrigir a máquina do poder de fora para dentro.

O raciocínio se refletiu nas ferramentas usadas por investigadores, nos métodos para obter provas e na escolha dos alvos da operação. Os abusos praticados a partir dessa doutrina deram fôlego à Lava Jato, mas logo provocaram sua asfixia.

Homem de terno e gravata sentado à frente de monitor de computador em escritório
O juiz federal Eduardo Appio, que assumiu em fevereiro a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato - Divulgação JF-PR

Num golpe do destino, a operação definhou porque perdeu sustentação política. As infrações cometidas pela força-tarefa fortaleceram uma coalizão interessada em reagir à Lava Jato, e a situação piorou de vez quando seus protagonistas buscaram abrigo partidário e eleitoral com o grupo que se beneficiou de suas ações.

Desde então, a sepultura da Lava Jato se mantém como uma espécie de altar político frequentado tanto por guardiães como por detratores.

Ao assumir os casos remanescentes, Appio exibiu simpatias partidárias, se lançou numa cruzada para rever atos passados e decidiu investigar integrantes da Lava Jato —o que seria legítimo, não fossem as suspeitas de que ele buscou atalhos nesse caminho. A reação partiu do consórcio que, por anos, se dispôs a preservar até as ilegalidades da operação: antes mesmo de uma apuração conclusiva, o TRF-4 afastou o juiz.

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