A turma do centrão sabe fazer um bom negócio. Dois ministérios do grupo devem ficar com o controle de quase metade da verba arrecadada com a taxação de apostas esportivas. A proposta inicial do governo era destinar R$ 117 milhões ao Ministério do Esporte no ano que vem, mas a Câmara incluiu na divisão o Ministério do Turismo e engordou a previsão para R$ 311 milhões.
A partilha foi aprovada pelos deputados no dia da posse de André Fufuca (PP). Ainda que seu partido mantenha um discurso de independência, o novo ministro do Esporte elogiou Lula ("um gigante na história") e se comprometeu a trabalhar para escoar o dinheiro do Orçamento federal até os municípios.
O centrão opera em busca de vantagens abastecidas pelos cofres públicos. Quando assumiu o Ministério do Turismo, Celso Sabino (União Brasil) propôs construir anfiteatros e pórticos em cidades do interior para "ter parlamentar feliz". Fufuca indicou a intenção de multiplicar obras de quadras esportivas pelo país.
Os termos da transação que marcaram a entrada do centrão no governo foram negociados sem constrangimento. Os partidos que formavam o núcleo de apoio a Jair Bolsonaro passariam a dar votos a favor dos projetos de interesse do Planalto se pudessem ocupar ministérios capazes de mandar dinheiro para bases políticas de deputados e senadores.
A expansão do poder do Congresso e as sucessivas mudanças que tornaram obrigatório o pagamento de bilhões de reais em emendas fazem com que um parlamentar dependa menos do Palácio do Planalto para ser "feliz". A entrada do centrão nos ministérios, no entanto, mostra que o governo ainda tem ferramentas para oferecer um bônus aos partidos.
Os políticos toparam o acerto porque identificaram uma oportunidade de aumentar suas chances de sobrevivência nas próximas eleições, além de extrair outros privilégios. O centrão só votará com Lula enquanto estiver bem alimentado e enxergar benefícios na associação com o desempenho do governo petista.
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