Após o primeiro turno, Javier Milei se reuniu em segredo com Mauricio Macri. O ultradireitista pediu (e levou) o apoio do ex-presidente argentino, que indicou economistas para a campanha do aliado. No jantar, falou-se de um governo de cooperação em caso de vitória, mas Milei se esquivou desse plano em público.
O candidato populista passou a última etapa da campanha na Argentina encenando o conhecido espetáculo de equilibrismo dos histriões da política. Buscou o abraço do establishment de direita e tentou envernizar um programa de governo explosivo, mas teve o cuidado de não afastar o eleitorado que se deixou seduzir pelo barulho original.
Houve quem comprasse o mito da moderação. Terceira colocada na votação de outubro, Patricia Bullrich explicou seu apoio a Milei como se apostasse que ele é apenas um exibicionista que não fará o que diz.
A ex-ministra argumentou que as propostas de Milei para liberar armas e a venda de órgãos haviam sido distorcidas. Em entrevista ao jornal O Globo, ela ainda tratou como fantasia a ideia da dolarização, ponto-chave da agenda econômica do político ultraliberal. "Temos um olhar mais real sobre o tema", declarou.
A direita tradicional passa um pano para Milei com o objetivo de ocupar espaços no poder caso ele seja eleito. O candidato e sua turma, no entanto, não escondem quem vai se sentar à mesa nessa coalizão.
A próxima vice-presidente poderá ser uma apologista da ditadura militar argentina. Um dos principais deputados eleitos no grupo de Milei já defendeu o uso das Forças Armadas para conter eventuais protestos contra o ajuste econômico feito por um futuro governo. O próprio candidato chegou à reta final da campanha espalhando suspeitas de fraude nas urnas, sem apresentar provas.
Muitos eleitores de Milei estão dispostos a comprar seus delírios pelo valor de face. Mas o ultradireitista só terá a maioria dos votos neste domingo se conseguir o apoio daqueles que estiverem dispostos a endossá-lo como um cheque em branco.
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