Bruno Gualano

É professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP. Também é autor de 'Bel, a Experimentadora'

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Gualano
Descrição de chapéu Coronavírus

Pessoas ativas respondem melhor à vacinação contra a Covid

Grupo exibe concentração de anticorpos contra o coronavírus cerca de 32% maior que a dos inativos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em setembro de 2020, especulamos aqui que pessoas fisicamente ativas –que geralmente apresentam um sistema imune mais robusto– poderiam responder melhor às vacinas contra a Covid-19. Era apenas uma hipótese à espera de avaliação. Eis que surgem os primeiros dados que a corroboram. Uma ótima notícia, em especial para pessoas que tendem a apresentar baixas respostas à vacinação, tais como os idosos e os pacientes imunocomprometidos.

O benefício da prática regular de atividade física sobre a resposta vacinal foi verificado num estudo (publicado em preprint) conduzido pelo nosso grupo da Faculdade de Medicina da USP, que acompanhou 898 pacientes com doenças reumatológicas autoimunes e 197 pessoas sem aparente deficiência no sistema imune, todos vacinados com a Coronavac.

Os participantes foram classificados como fisicamente ativos ou inativos, de acordo com a aderência à recomendação mínima de atividade física da OMS –150 minutos por semana. No cálculo, todo movimento de intensidade moderada à intensa contou: andar ao trabalho, passear de bicicleta, realizar faxina pesada ou subir e descer lances de escada etc., além dos exercícios estruturados, realizados em academias, centros esportivos e afins.

Comparados aos pacientes fisicamente inativos, os ativos exibiram uma concentração de anticorpos IgG contra o coronavírus cerca de 32% maior em resposta à vacinação. Para que você, leitor, perceba a grandeza desse dado, destaco que, neste mesmo estudo, o envelhecimento –condição que sabidamente prejudica a resposta vacinal– foi associado a uma redução de 33% na produção de anticorpos. Percebam, pois, que a atividade física e a senescência induziram efeitos equivalentes em magnitude sobre a resposta vacinal, porém com sinais trocados.

Se cumprir a recomendação mínima de atividade física traz benefícios, acumular volumes maiores parece ser ainda melhor negócio. Com efeito, os mais elevados níveis de anticorpos foram observados entre os pacientes “superativos”, que realizavam 350 minutos ou mais por semana.

Já os sedentários se deram mal. Gastar mais do que 8 horas do dia sentado mostrou-se prejudicial à produção de anticorpos, mesmo entre os pacientes fisicamente ativos (sim, é possível ser sedentário e ativo ao mesmo tempo, como já discutido aqui), mitigando os ganhos vistos nesse grupo.

É importante ressaltar que os benefícios da atividade física na resposta vacinal também foram observados entre as pessoas sem deficiências no sistema imune, o que amplia o alcance dos nossos achados. Por outro lado, somente novos estudos permitirão responder se as nossas conclusões se estendem a outros imunizantes para além da Coronavac.

A ciência tem nos ensinado que o estilo de vida ativo previne parcialmente casos graves e mortes por Covid-19. Como se não bastasse, sabemos agora que pessoas ativas respondem melhor à vacinação. Temos à disposição, portanto, um booster natural do sistema imune, seguro, de baixo custo e com potencial de atender a um elevado número de pessoas. Notadamente em tempos de pandemia, mover-se mais e sentar-se menos é medida da qual não se pode prescindir.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.