Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Nikolas Ferreira assume o front

Deputado reforça investimento em guerra contra opositores, rejeitada por Tarcísio

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A divisão dos espólios políticos de Bolsonaro avançou. Ao defender a aprovação da Reforma Tributária, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deixou claro que a continuidade da guerra contra opositores não é de seu interesse. Já o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) reforçou o investimento no conflito e assumiu a linha de frente.

O fraseado bélico não é mera analogia com o militarismo. Afinal, a ideia de guerra é mobilizada explicitamente por extremistas de direita para se referir ao confronto com inimigos políticos, o qual se estende ao reino espiritual.

Logo após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro ter sido declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral, Nikolas iniciou um "desafio" em seu Instagram. Para tanto, conclamou pastores, cantores gospel e influenciadores a fazer "21 dias de oração pelo Brasil". O objetivo? Acumular forças na guerra espiritual contra o que percebem ser forças malignas que assolam o país, atitude análoga à adotada por boa parte das pessoas que ficaram acampadas em quartéis à espera de um golpe.

Nikolas, um rapaz jovem, branco, cabelos castanhos e vestido de terno cinza com gravata azul escuro e camisa branca. Ele está de pé falando ao microfone de mesa
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) durante sessão no plenário da Câmara - Zeca Ribeiro - 12.abr.23/Câmara dos Deputados

Em um vídeo postado na rede social, o deputado anuncia em off: "Não é preciso muito esforço para perceber que querem tomar a nossa nação. [...] E quem enviarão para nos derrubar? Homens, líderes políticos, ideologias, a mídia? Nesta guerra espiritual já existe um vencedor, a solução não vem do humano, está no sobrenatural. Nossa luta pelo futuro da nação não está no levantar de espadas, mas no dobrar de joelhos".

Tal retórica rende frutos. Eleito por Minas Gerais, Nikolas obteve mais de 1,47 milhão de votos em 2022. É o terceiro deputado federal mais votado da história da Câmara. O primeiro lugar é ocupado por Eduardo Bolsonaro (PL), com 1,84 milhão de votos, em 2018, seguido por Enéas Carneiro, que em 2002 conquistou 1,57 milhão de votos, ambos eleitos pelo estado de São Paulo.

Com apenas 27 anos, o parlamentar já reúne 8 milhões de seguidores no Instagram, mais de 2,5 milhões no Twitter, e impressionantes 4,5 milhões no TikTok. Para efeito de comparação, o próprio Jair Bolsonaro possui 5,4 milhões de seguidores na rede chinesa, enquanto Lula conta com 4,4 milhões de seguidores.

"Um superstar." Foi assim que Adis Ahmetovic, um jovem deputado do Partido Social-Democrata da Alemanha, classificou Nikolas Ferreira após vê-lo em ação no Congresso Nacional.

A expressão não é exagerada. Em uma viagem de estudos a Brasília, alunos de uma escola de elite de São Paulo ficaram em êxtase ao conhecê-lo pessoalmente, a despeito de concordarem ou não com suas ideias. Ignorados por congressistas de esquerda, os jovens visitantes do Congresso foram recepcionados calorosamente pelo político-celebridade, com direito a selfies e vídeos.

Até o presente, as acusações de LGBTfobia, transfobia e incitação ao ódio que tramitam no Judiciário apenas lhe renderam pontos no quesito rebeldia antissistema. No entanto, a risada cúmplice que se seguiu à fala de Anderson Silva, pastor investigado pela Polícia Federal por pedir orações para quebrar a mandíbula de Lula, e a defesa entusiasmada do indefensável André Valadão, pastor investigado pelo Ministério Público Federal por homotransfobia, sinalizam que, em algum momento, o tiro pode sair pela culatra.

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