Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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1º de Maio ocorre com uma das piores conjunturas para o trabalho fabril

Além da queda na taxa de sindicalização, mundo do trabalho que deu origem a lideranças sindicais como Lula perde espaço a cada dia

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Lula e Bolsonaro podem ter no dia 1º de Maio um palco político privilegiado. Enquanto Lula avalia discursar na comemoração organizada por sete centrais sindicais no Vale do Anhangabaú, Bolsonaro deve tentar exaltar apoiadores reunidos na Agrishow, em Ribeirão Preto, ignorando a importância da data para os trabalhadores.

Contudo, a despeito do simbolismo do Dia do Trabalho para Lula e para o PT, a celebração ocorre em meio a uma das piores conjunturas para os trabalhadores brasileiros. Para além da queda na taxa de sindicalização e, portanto, de arrecadação dos sindicatos, acentuada pela reforma trabalhista, o mundo do trabalho que deu origem a lideranças sindicais como Lula perde mais espaço a cada dia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 6.abr.2023/Folhapress

Os geógrafos Marco Antonio Mitidiero Junior e Yamila Goldfarb, em estudo produzido para a Fundação Friedrich Ebert, apontam que, entre os anos de 2015 e 2020, foram fechadas cerca de 17 fábricas por dia no Brasil.

Além disso, a redução da participação do setor industrial na formação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro desde os anos 1980 é brutal. Em 1985, a indústria respondia por 47,9% do PIB, em 2005 caiu para 28,4%, em 2013 para 24,8%, e em 2019 para 22%. Inclusive, vale registrar que, ainda que a queda na exportação de manufaturados seja global, a tendência é mais acentuada no Brasil.

Em 2010, auge do lulismo, Lula procurou ser otimista. Durante um discurso realizado em uma solenidade de formatura de novos diplomatas do Instituto Rio Branco, o ex-sindicalista afirmou que "as commodities estão ficando mais valiosas do que os tais produtos manufaturados". A despeito de ter lembrado que, anos antes, dizia que o Brasil não poderia continuar sendo um exportador de produtos básicos e precisava vender mais bens industrializados, afirmou que, agora, o mundo precisava de mais comida, e "o Brasil é quem tem a competência de produzir muito mais comida".

Passados 13 anos, o predomínio do agronegócio aponta para uma alarmante reprimarização da economia nacional. A produção se concentra em poucos produtos básicos exportados para poucos países, criando uma dupla dependência. Em 2020, a China comprou cerca de 60% da soja brasileira, e, em troca, nos vendeu produtos industrializados, como máscaras e respiradores durante a pandemia, os quais não fomos capazes de produzir internamente. Ao mesmo tempo, a despeito da propaganda de que o agro alimenta o Brasil, importamos em grandes quantidades alimentos como trigo, peixes, tubérculos e até mesmo arroz, base de nossa alimentação.

Além disso, Mitidiero e Goldfarb, ao analisarem a balança comercial, a balança de pagamentos e os créditos recebidos pelo agronegócio, somados aos incentivos fiscais, à baixa arrecadação de impostos e ao constante perdão e renegociação de dívidas, mostram que a conta não fecha. Ou seja, para além do apoio explícito ao golpismo bolsonarista, do uso intensivo de agrotóxicos banidos em outros países, e dos enormes danos causados à natureza e à saúde da população, economicamente, o agronegócio recebe muito e contribui pouco.

Assim, em meio à celebração do aumento do salário mínimo para R$ 1.320 de um lado, e à exaltação às armas e à criminalização do MST de outro, o país segue sem um projeto sustentável de futuro para as próximas gerações.

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