Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Descrição de chapéu Eleições 2024

2024 promete disputa acalorada em São Paulo

Conquistar a prefeitura da capital não será tarefa fácil para Boulos

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Previsões entusiasmadas de setores da esquerda, baseadas nas últimas pesquisas de intenção de voto, apontam a vitória de Guilherme Boulos (PSOL) para a Prefeitura de São Paulo como altamente provável. Há também quem aposte que o retorno de Marta Suplicy ao PT, e sua presença na chapa de Boulos como vice, é garantia de vitória.

No entanto, com ou sem Marta na chapa, conquistar a prefeitura da capital não será tarefa fácil para o candidato do PSOL. Afinal, é preciso levar em consideração que a esquerda perdeu a capilaridade que possuía em seus próprios redutos eleitorais ao longo dos últimos dez anos.

O presidente Lula (PT) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) em evento do Minha Casa Minha Vida na zona leste da capital paulista
O presidente Lula (PT) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) em evento do Minha Casa Minha Vida na zona leste da capital paulista - Bruno Santos - 16.dez.23/Folhapress

Em 2016, João Doria, então filiado ao PSDB, conquistou a prefeitura no primeiro turno, alavancado pelo antipetismo galopante e pelo sentimento antipolítica que precedeu o crescimento do bolsonarismo no país. Quatro anos depois, os tucanos permaneceram no comando da cidade após Bruno Covas (PSDB) obter mais de 1 milhão de votos a mais que Boulos no segundo turno.

Ainda que tenha saído vitorioso em regiões da extrema periferia de São Paulo, o psolista perdeu nos bairros que já deram vitórias ao PT em eleições passadas. Inclusive, no bairro do Campo Limpo, onde reside, obteve pouco mais de mil votos a mais que Covas.

É possível argumentar que o PT venceu Jair Bolsonaro, em nível nacional, e Tarcísio de Freitas, em nível estadual, justamente nas periferias da cidade. Por conta disso, nas eleições de 2022, a cidade de São Paulo se firmou como um bastião antibolsonarista.

Porém, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), não é reconhecido (ainda) como um político alinhado ao bolsonarismo, a despeito de seu histórico ser permeado por acusação de violência doméstica, por ataques à chamada "ideologia de gênero" e pela defesa da família tradicional.

Além disso, um fator importante nos cálculos eleitorais é a avaliação da atual gestão. E, nesse sentido, Nunes possui números semelhantes aos de Bruno Covas. Nas vésperas das eleições de 2020, a gestão do tucano foi avaliada como ótima e boa por 25% da população, regular por 45% e ruim e péssima por 27%.

Nos últimos dois anos, a gestão de Nunes foi avaliada como ruim ou péssima por cerca de 30% da população, porém, houve uma melhora em tais índices em 2023. De acordo com uma pesquisa divulgada em setembro pelo Instituto Datafolha, 23% da população avaliam a gestão do emedebista como ótima e boa, 49% a avaliam como regular, e 24% como ruim e péssima.

É verdade que o sentimento de mudança é forte entre muitos paulistanos. Por esse motivo, Nunes procura associar a novidade representada por Boulos à instabilidade e à desordem. Ao agir dessa forma, o prefeito busca provocar medo e ansiedade entre os eleitores, sobretudo entre os moradores da chamada "periferia consolidada", os quais costumam decidir as eleições da capital.

Em resposta, Boulos já anunciou que seu gabinete será formado por pessoas de diferentes partidos e gestões passadas. Resta saber se tal estratégia, combinada à atuação de Lula como seu principal cabo eleitoral, será suficiente para fazer com que a esquerda retorne à Prefeitura de São Paulo em uma disputa que promete ser a mais acalorada do país em 2024.

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