Datafolha: Boulos tem 32%, e Nunes, 24% para Prefeitura de São Paulo

Tabata Amaral (11%) empata com Kim Kataguiri (8%) na primeira pesquisa para 2024

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São Paulo

A primeira pesquisa do Datafolha sobre a corrida eleitoral de 2024 na cidade de São Paulo traz Guilherme Boulos (PSOL) à frente, com 32%. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), marca 24%, sendo seguido no terceiro lugar por Tabata Amaral (PSB, 11%) e Kim Kataguiri (União Brasil, 8%).

Entre nomes já colocados para a disputa, fica em quinto o ex-deputado Vinicius Poit, do Novo, com 2%. Dizem votar em branco ou nulo 18%, número alto e normal a 13 meses do primeiro turno, e 5% não souberam indicar seu nome preferido.

Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União Brasil) e Vinicius Poit (Novo)
Na montagem, Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União Brasil) e Vinicius Poit (Novo) - Zanone Fraissat, Karime Xavier, Gabriela Biló e Mathilde Missioneiro/Folhapress

O Datafolha ouviu 1.092 eleitores na capital paulista na terça (29) e na quarta (30). A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou menos.

Na pesquisa espontânea, na qual o eleitor é instado a citar um nome de sua preferência sem ter a lista dos eventuais postulantes, Boulos tem 8%, Nunes, 4%, e Kim, 1%. O "candidato do PT", que não deverá existir, tem 2%, e "o prefeito", sem ter o nome especificado, outros 2%. Dizem não ter candidato 72%, e 7% indicam querer anular ou votar em branco.

Com a ressalva de que ainda é muito cedo para diagnósticos definitivos acerca da corrida eleitoral, os dados da pesquisa desenham um cenário com um grau variado de boas notícias para os envolvidos.

O deputado federal Boulos, por óbvio, poderá celebrar a dianteira na largada. Seus 32%, contudo, refletem muito o bom desempenho na eleição municipal passada, que perdeu para Bruno Covas (PSDB) no segundo turno.

De lá para cá, Boulos conseguiu uma difícil composição com o PT paulista, deixando de ser candidato a governador em favor do hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no ano passado. Em troca, recebeu o apoio formal do diretório municipal do partido para 2024, o que deixará a sigla sem candidato pela primeira vez na sua história na cidade.

No primeiro turno de 2020, Boulos teve 20,24% dos votos válidos. Jilmar Tatto, do PT, somou meros 8,65%. Grosso modo e descontando o fato de que a pesquisa trata de votos totais, o contingente se une nessa primeira aferição.

Daí o desafio do psolista de expandir sua base, em especial junto ao eleitorado mais conservador que torce o nariz para suas credenciais esquerdistas —ele liderou por anos no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) na cidade, sendo associado no imaginário deste segmento a invasões de prédios.

Sua atuação neste nicho se reflete nos 48% que atinge de preferência na região central, foco da questão dos sem-teto, mas que só soma 5% dos eleitores segundo o Datafolha.

Reforçando a imagem de um certo esquerdismo elitista da capital, Boulos tem seus melhores desempenhos também entre os 31% que têm curso superior (44% de intenção) e entre os 5% mais ricos (45%).

No segundo turno de 2020, Boulos ganhou apenas em 8 das 58 zonas eleitorais paulistanas, principalmente na mais empobrecida zona sul (34% da amostra) e em pontos da leste (33% dos eleitores). Nunes parece repetir agora Covas, com seu melhor desempenho numérico entre os 40% mais pobres, onde chega a 29%.

No segundo turno do pleito passado, Boulos absorveu apoios num cenário mais polarizado, com quatro outros candidatos com votações relativamente significativas, dos 8,65% de Tatto aos 13,64% de Márcio França (PSB). Chegou a 40,6% dos válidos na rodada final.

Boulos se favorece pelo clima de 2022 na capital, que votou no sentido contrário do estado, escolhendo Haddad e o presidente Lula (PT). Mas o histórico paulistano é complexo: desde 1985, o perfil dos eleitos foi tão díspar que estabelecer um padrão é quase um exercício de futurologia.

Já o prefeito Nunes, que assumiu após a morte de Covas em 2021, vive um dilema diverso. Seus 24% são modestos para sua posição, mas ele conseguiu desamarrar parte da desconfiança de seus apoiadores nominais.

O entorno do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, sempre manteve uma visão mais afastada da gestão municipal, até por sua origem na sociedade com o tucanato ora dizimado em São Paulo. Agora, deve caminhar com Nunes.

A principal vitória do prefeito até aqui foi a saída da corrida de um nome bolsonarista puro, o do deputado Ricardo Salles (PL-SP), e a aproximação com o ex-presidente, com quem Nunes se reuniu recentemente. Bolsonaro já fala, nos seus termos usuais, em "noivado" com o alcaide.

Em um eleitorado associado ao ex-mandatário, o evangélico (25% da amostra), a vantagem de Nunes por ora não ultrapassa a margem de erro: 26%, ante 21% do psolista. Entre católicos (38% dos ouvidos), outra igualdade: 31% a 27% de Boulos.

Isso dito, o esquerdismo do pleito anterior na capital e a crescente toxicidade do ex-presidente desautorizam um alinhamento irrestrito ao bolsonarismo, obrigando o prefeito a um malabarismo que de todo modo não é estranho ao eleitor. Basta lembrar de Haddad recebendo o apoio do prócer da direita paulista, Paulo Maluf, ao lado de Lula na disputa que acabou vencendo para a prefeitura em 2012.

Do ponto de vista objetivo, bastante conhecido e pouco rejeitado, segundo o Datafolha, Nunes tem em seu favor a máquina da prefeitura, com dinheiro em caixa sobrando para promover sua gestão, seja com obras, seja com propaganda. Contra si, o fato de que 79% dos entrevistados desejam mudança no rumo da administração, enquanto 17% querem a manutenção das políticas atuais.

Boas novas colhem também os atores fora da polarização mais imediata dos líderes. A deputada federal Tabata reuniu números positivos para uma largada de campanha: terceiro lugar numérico nas intenções, baixa rejeição e uma exposição ainda baixa: apenas 50% afirmam a conhecer (13% muito, 15% um pouco e 22%, de ouvir falar).

Em comparação, Boulos tem 80% de conhecimento e Nunes, 79%. Com histórico de desagradar tanto a direita quanto a esquerda em sua atuação em Brasília, Tabata entra na disputa na mesma faixa de frequência do nome do PSOL, mas com a possibilidade de mirar de forma assertiva o centro e talvez a centro-direita.

A pré-candidatura da deputada tem sido estimulada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e por França, ministro dos Portos de Lula, por interesses diversos e não necessariamente convergentes. Com o PT fora do páreo, o partido tem uma oportunidade de crescimento.

Ela empata tecnicamente com Kim, outro deputado que como Tabata saiu de grupos de formação de políticos que emergiram enquanto a Operação Lava Jato devastava as siglas tradicionais entre 2016 e 2018.

Com o DNA radical do MBL (Movimento Brasil Livre), Kim vinha buscando se posicionar na disputa, e nesta pesquisa amealha números semelhantes aos colhidos no primeiro turno de 2020 por um ex-integrante do grupo, Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota).

Se o voo solo parece politicamente improvável devido ao fato de que quem manda na União Brasil na cidade é o poderoso Milton Leite, presidente da Câmara que é o esteio da gestão Nunes, números robustos poderão ser usados no pleito pela vaga de vice do prefeito. Contra isso concorre o fato de que este posto está na mira do PL e do bolsonarismo, faltando aí um nome viável para indicar.

Em comum, Tabata, 29, e Kim, 27, são jovens. Colhem os melhores desempenhos entre quem tem de 16 a 24 anos: ela tem 17% nesse segmento, que representa 16% do eleitorado, e ele, 14%. O mesmo não ocorre com Poit, um pouco mais velho (37), mas surgido na mesma safra antipolítica de 2018. No ano passado, teve 1,67% dos votos para governador do estado.

A atenção desse eleitor jovem ao pleito agora, contudo, é menor numericamente (68% de interesse) do que o registrado no conjunto dos entrevistados (73%). Índices semelhantes se encontram quando o assunto é a eleição para a Câmara Municipal: 67% dos jovens se interessam, ante 71% no geral.

Erramos: o texto foi alterado

O eleitorado de 16 a 24 anos representa 16% do total, não 20%, como constou de versão inicial do texto. 

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