Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Descrição de chapéu Todas desigualdade de gênero

Dia da Mulher: brasileiras querem mais

A luta pelo direito a ser cuidado, a cuidar, e ao autocuidado é central para as brasileiras

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Legalização do aborto, novas leis contra violência sexual, incentivos à paridade de gênero em empresas e governos, distribuição de absorventes íntimos pelo Estado. Estes são apenas alguns dos avanços recentes do feminismo na América Latina. Até mesmo no Brasil de Jair Bolsonaro, as mulheres conquistaram avanços importantes, como a Lei Mariana Ferrer, que protege vítimas de crimes sexuais em julgamentos, e o Programa de Proteção e Promoção da Saúde e Dignidade Menstrual.

Mas as brasileiras querem mais. De acordo com levantamentos realizados em 2021 e 2022 pelo Instituto de Pesquisa Ideia para o Instituto Update, 77% das mulheres brasileiras concordam que é preciso ter mais mulheres na política, e 64% concordam que as mulheres deveriam ter metade das vagas nas eleições. Quase a totalidade das entrevistadas (93%) afirma que a violência contra a mulher deve ser mais combatida, e 88% acreditam que homens e mulheres devem ter paridade salarial, cifra que sobe para 93% entre mulheres negras.

Cinco mãos negras levantadas com punho fechado
De acordo com dados do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, das 66,8 milhões de pessoas que estão fora da força de trabalho no Brasil, 42,5 milhões são mulheres (63,7%) - Catarina Pignato

Outra pauta que tem grande adesão das mulheres é o cuidado. A ideia de receber um auxílio para cuidar dos filhos é bem recebida por 70% das brasileiras. Ao mesmo tempo, a maioria dispensa a dedicação integral à família e almeja autonomia financeira. Tal desejo está presente mesmo entre mulheres que se consideram conservadoras. No entanto, a realidade brasileira dificulta a conquista de maior autonomia para parte expressiva das mulheres.

De acordo com dados do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, das 66,8 milhões de pessoas que estão fora da força de trabalho no Brasil, 42,5 milhões são mulheres (63,7%). Do total de mulheres fora da força de trabalho, 13,6 milhões (mais de 32%) declaram que não procuraram emprego por terem que cuidar de afazeres domésticos, dos filhos e de parentes, ou por não haver serviço no local em que habitam. Mulheres negras são 36,5% das pessoas fora da força de trabalho, enquanto as mulheres brancas são 27,2%. Entre homens brancos, o percentual é de apenas 15%.

Com o objetivo de melhorar tal cenário, o Ministério das Mulheres pretende lançar uma Política Nacional de Cuidados em maio. Para tanto, foram criadas a Secretaria Nacional de Autonomia Econômica e Políticas de Cuidados, no Ministério das Mulheres, e a Secretaria de Cuidados e Família, no Ministério do Desenvolvimento Social. O plano é ambicioso. O Grupo de Trabalho Interministerial responsável por sua elaboração envolve 20 ministérios e órgãos como Ipea, IBGE e Fiocruz. Entre as políticas compreendidas pelo plano figuram, por exemplo, a ampliação de escolas de tempo integral, creches, experiências de lavanderias coletivas, cozinhas e restaurantes comunitários/solidários, entre outras.

A luta pelo direito a ser cuidado, a cuidar, e ao autocuidado é central para as brasileiras. Como aponta a filósofa e escritora Helena Hirata, o trabalho doméstico e de cuidados sempre foi considerado, no Brasil e no mundo, responsabilidade das mulheres, acarretando uma assimetria em sua carga de trabalho. Sobrecarregadas, as mulheres não conseguem usufruir do "tempo de lazer e de 'respiro', como têm os homens quando terminam de realizar seu trabalho profissional". E para poder querer mais, conseguir "respirar" é fundamental.

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