Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

A esquerda não petista

É muito bom, enfim, que haja novas forças progressistas disputando com o PT

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o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), os ex-presidenciáveis Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad e Sônia Guajajara em encontro em Brasília
O ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), os ex-presidenciáveis Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT) e Sônia Guajajara durante encontro em Brasília, em março - Scarlett Rocha/Reprodução-Twitter

A derrota do Partido dos Trabalhadores na eleição presidencial de 2018 abriu a competição pela liderança das esquerdas. O PDT de Ciro Gomes parece ser um desafiante natural para os petistas. Tem um candidato carismático, bem conhecido e que ficou em terceiro na última eleição.

Em 2018, a estratégia de Ciro fracassou. Contando que as intenções de voto em Lula murchariam após a prisão, Ciro se posicionou bem à esquerda para atrair os lulistas desiludidos. Passou muito tempo falando em anular as privatizações de Temer, atacou Sergio Moro. Quando o PT não murchou, Ciro estava mal posicionado para desempenhar o papel de terceira via.

O dilema de Ciro em 2018 é o da esquerda não petista agora: expulsar o PT do espaço que atualmente ocupa à esquerda ou se posicionar entre o PT e o centro? 

No caso do PDT, a disputa é séria, porque ano passado os brizolistas atraíram gente boa que apostou em Ciro como terceira via. Tabata Amaral, por exemplo.

O PSOL é o partido que mais claramente disputa o espaço que o PT ainda ocupa. Tem uma ótima formação de quadros (Marielle Franco, Talíria Petrone) e histórico de defesa das minorias e de combate à corrupção. Antes de atualizar seu programa econômico, o PSOL não disputará o centro e terá dificuldades em eleições majoritárias. Mas nem todo mundo acha as majoritárias prioridade.

O ótimo desempenho do governador Flavio Dino no Maranhão poderia colocar o PCdoB em boa posição na disputa pela liderança da esquerda. O partido está à esquerda do PT, mas é, dos não petistas, o mais próximo do lulismo. O PCdoB já demonstrou disposição para fazer alianças amplas. Mas a falta de um acerto de contas com o passado stalinista é inexplicável e torna o partido um alvo fácil.

Por motivos diferentes, PSOL e PCdoB exemplificam algo que é comum na esquerda não petista. Muitas atualizações programáticas podiam ser adiadas enquanto o PT ia na frente levando as porradas. Talvez não sejam mais.

Mais ao centro, a novidade é a volta do PSB para a disputa. O partido passou por uma fase de indefinição ideológica a partir de 2014. 

Quando Eduardo Campos se candidatou à presidência pelo PSB, teve que acomodar aliados conservadores na sigla. Eles deveriam ter ido para o PSD, mas Kassab rompeu a aliança na última hora. Com a morte trágica de Campos, os conservadores resolveram ficar por lá mesmo (que beleza), e só recentemente a esquerda recuperou o controle da legenda. O PSB recebeu reforços importantes vindos da Rede Sustentabilidade, como Alessandro Molon.

O problema do PSB e de outros centristas (como a Rede) é que, aceitem minha palavra nesse caso, não é fácil ser centrista contra Bolsonaro. 

Defender a Lava Jato era bem mais fácil antes de Moro aceitar ser ministro. Defender a reforma da Previdência era bem mais fácil antes de enfiarem essa picaretagem de capitalização no meio. A centro-direita, com quem se poderia negociar, não está no governo, e ninguém sabe se concessões a Bolsonaro facilitarão ataques futuros à democracia.

É muito bom, enfim, que haja novas forças progressistas disputando com o PT. No mínimo, a competição pode fazer os petistas trabalharem melhor. Só torço para que os desafiantes entendam logo que não é à toa que o PT anda desorientado: os problemas são difíceis.
 

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