Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Esculhambação institucional pós-2018 mantém Bolsonaro no jogo

Presidente depende de efeitos eleitorais da PEC 'Medo do Lula' e de golpismo passar despercebido

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Nenhuma virada em eleições presidenciais brasileiras começou de agosto em diante. A pesquisa Datafolha da semana passada veio igual à do mês anterior. Isso quer dizer que Bolsonaro tem que cobrir a mesma distância que já o separava de Lula em um período 30% menor.

Por mais que os bolsonaristas mintam sobre o Datafolha, a pesquisa do instituto era a melhor esperança de uma boa notícia para o Planalto no fim de julho. O Datafolha faz pesquisas presenciais, que são melhores para medir os votos dos pobres.

Pesquisas presenciais têm sido piores para Bolsonaro —os pobres votam em Lula— mas é justamente para o voto dos pobres que Bolsonaro está olhando com mais atenção: se a PEC "Medo do Lula" produzir efeitos eleitorais significativos, será entre os pobres.

A foto mostra Bolsonaro de costas diante do  STF
O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 11.jul.2022/Folhapress

O Datafolha não trouxe notícia de novos pobres votando em Bolsonaro fora da margem de erro. Foi, portanto, uma pesquisa ruim para Jair: o anúncio do auxílio não lhe rendeu votos.

Resta-lhe a esperança, entretanto, de que essa situação mude quando o dinheiro do auxílio for depositado. É uma expectativa perfeitamente plausível. É bem possível que Bolsonaro ganhe alguns pontos percentuais nas pesquisas no final de agosto.

Isso pode evitar uma vitória de Lula no primeiro turno, se o petista não for beneficiado por voto útil de eleitores de Ciro ou Tebet.

No fundo, é isso: se não fosse pela PEC "Medo do Lula", ou Lula já teria sido eleito, ou haveria tempo para uma debandada de direitistas para outras candidaturas.

O governo Bolsonaro foi ruim demais para que a reeleição fosse o cenário mais provável, como sempre foi o caso em eleições anteriores. Entretanto a própria esculhambação institucional pós-2018 gerou a PEC que mantém o presidente no jogo.

No jogo, mas com que chances? Mesmo se Bolsonaro for para o segundo turno contra Lula, as projeções não lhe são favoráveis.

Além disso, para um potencial aliado nos estados, o golpismo de Bolsonaro traz vários riscos. A menos que se tenha certeza de que o golpe dará certo –e ninguém tem– apoiar Bolsonaro é correr o risco de chegar em um provável terceiro governo Lula tendo tentado roubar a eleição do cara que ganhou.

É declarar guerra contra o STF e a imprensa, que têm boa memória.

Isto é, mesmo se as últimas semanas de agosto aumentarem as chances de Bolsonaro vencer a eleição, o 7 de Setembro aumentará o preço que seus aliados pagarão em caso de derrota.

Não por acaso, as movimentações a favor de Lula começaram antes mesmo de sabermos, em definitivo, se a PEC mudará muitos votos.

Líderes do PMDB de 11 estados já declararam apoio a Lula no primeiro turno. O PT ainda tenta atrair apoios de gente na União Brasil, o que, pouco tempo atrás, seria impensável.

Há uma chance real de André Janones (Avante-MG) desistir de sua candidatura em favor de Lula nesta semana. Enquanto isso, o PP do Piauí, partido do ministro Ciro Nogueira, briga na Justiça para que seus adversários não divulguem fotos de seus candidatos com o presidente da República.

As coisas podem mudar, mas, no momento, o quadro é o seguinte: o auxílio trabalha por Bolsonaro, o golpismo trabalha contra. Portanto o efeito do auxílio precisa ser grande o suficiente para Jair voltar a acreditar que pode vencer sem golpe. Não é fácil.

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