Descrição de chapéu
Eleições 2022 Pesquisa eleitoral

Datafolha: Bolsonaro vê primeiros sinais de manobras econômicas, mas ritmo é lento

Números sugerem que Lula pode ter energia para absorver impacto da força da máquina do governo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

A nova pesquisa do Datafolha dá a Jair Bolsonaro (PL) alguns sinais de que as manobras do governo na economia têm potencial de atingir segmentos sensíveis do eleitorado. O presidente ganhou terreno em grupos que mostram resistência a sua candidatura, como as mulheres e a população de baixa renda.

A má notícia para o comitê da reeleição é que o ritmo dessas variações ainda é lento. Lula (PT) mantém uma frente considerável sobre Bolsonaro nos dois turnos da disputa –e faltam menos de 70 dias para a abertura das urnas.

O teste de fôlego para as chances de reeleição do presidente começa agora. A estabilidade dos números no quadro geral indica que a má avaliação do governo atingiu um certo grau de cristalização, o que torna sua reversão mais custosa. Não à toa, Bolsonaro lançou torpedos violentos com esse objetivo.

Montagem Jair Bolsonaro e Lula
Na montagem, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) - Pedro Ladeira/Folhapress e Lula no Facebook

O efeito de medidas como a redução dos preços dos combustíveis e a ampliação do Auxílio Brasil devem aparecer com mais nitidez nas próximas semanas, mas a estabilidade de Lula e a vantagem que o petista preserva na corrida ainda sugerem que o petista pode ter energia suficiente para absorver o impacto.

Dois índices principais reforçam a hipótese de que Bolsonaro colhe resultados de uma promessa de melhora no cenário econômico. Desde o último levantamento do Datafolha, em junho, o presidente ganhou seis pontos percentuais entre as mulheres e avançou três pontos entre os mais pobres.

São grupos que costumam sentir com mais peso variações no mercado de trabalho, na renda e nos preços de produtos como o gás de cozinha. As semanas recentes tiveram notícias positivas nas três áreas.

Mesmo antes da entrada em vigor do aumento do Auxílio Brasil, Bolsonaro também recebeu um impulso dos beneficiários do programa –o que pode ser reflexo da expectativa pelo início dos pagamentos de R$ 600, previsto para agosto. As intenções de voto no presidente nesse grupo cresceram seis pontos desde maio.

Bolsonaro ainda pode obter dividendos eleitorais importantes a partir do próximo mês, mas os números mostram que ele ainda tem dificuldades para disputar território com Lula na área social. Identificado com programas implantados em seu governo, o petista tem a preferência de 53% dos beneficiários do Auxílio Brasil, contra 26% do atual presidente.

Os números da rejeição confirmam o cenário. Bolsonaro reduziu em cinco pontos o percentual de beneficiários do Auxílio Brasil que dizem não votar nele de jeito nenhum. Ele também conseguiu baixar esses números entre as mulheres (menos sete pontos).

Pode ser que o início da reversão do quadro tenha começado tarde –considerando, principalmente, que só duas parcelas de R$ 600 do benefício serão pagas até o primeiro turno.

Atualmente, 54% dos brasileiros que recebem todo mês o Auxílio Brasil se recusam a votar no presidente. Entre as mulheres, a taxa é a mesma.

Amenizar os índices de rejeição é uma das prioridades da campanha de Bolsonaro para recuperar eleitores que votaram nele em 2018 e garantiram sua vitória no segundo turno. Entregar algum conforto na economia é a chave do comitê do presidente para forçar um enfrentamento com Lula em outras áreas.

A relativa estabilidade nos índices de voto e rejeição do ex-presidente, no entanto, consolida seu favoritismo até aqui e indica que Bolsonaro ainda não teve sucesso em desviar o foco da disputa para ativar um sentimento antipetista.

Nos últimos dois meses, a proporção de eleitores que dizem não votar em Lula de jeito nenhum subiu três pontos, de 33% para 36%.

O comitê de Bolsonaro quer aumentar essa rejeição num eventual segundo turno. Com mais quatro semanas de campanha, a equipe do presidente espera ganhar tempo para exibir os efeitos das medidas econômicas e intensificar o enfrentamento com o PT.

O principal risco para Bolsonaro vem no sentido contrário. A rejeição cristalizada acima do patamar de 50% ainda mantém a campanha como um plebiscito sobre sua permanência no poder. Se o comportamento do presidente na disputa e as ameaças às eleições criarem mais resistências no eleitorado, o antibolsonarismo tende a se tornar a marca da disputa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.