Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Governo Lula

Quaquaísmo ultrapragmático ainda é minoritário no PT

Foto de deputado mostra risco de dissolução ideológica no partido

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Na semana passada, o deputado Washington Quaquá (PT-RJ) se deixou fotografar ao lado de Eduardo Pazuello (PL-RJ), um dos principais cúmplices de Jair Bolsonaro no assassinato de, no mínimo, 100 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19.

Após a repercussão negativa, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais condenar a atitude. "Na vida, como na política, há limites para tudo", disse Hoffmann.

Os deputados federais Washington Quaquá (PT-RJ) e Eduardo Pazuello (PL-RJ) durante reunião da Petrobras, nesta terça (14) - @washington.quaqua.5 no Instagram

Quaquá tem um nome engraçado, mas não deve ser subestimado enquanto liderança. Ao que tudo indica, foi um bom prefeito em Maricá, no Rio de Janeiro, onde há um programa de renda básica de repercussão internacional.

Entretanto Quaquá também é famoso por uma disposição para fazer alianças que excedem em muito a do petista médio e mesmo a do petista moderado.

Em 2020, Quaquá articulou o apoio do PT a Waguinho, candidato a prefeito de Belford Roxo, no estado do Rio, que apoiava Bolsonaro. Dois anos depois, Waguinho foi o único prefeito da Baixada Fluminense a apoiar Lula no segundo turno.

Foi um apoio tão raro que lhe rendeu o direito de indicar sua esposa, a deputada Daniela do Waguinho, para o Ministério do Turismo. Quaquá venceu o round.

Entretanto, fora de eleições em que o adversário seja o fascismo, esses movimentos ainda incomodam a grande maioria dos petistas. O Quaquaísmo, uma virada ultrapragmática beirando a dissolução ideológica, ainda é minoritário no PT.

O partido já fez inúmeras alianças com a direita, em geral para assegurar maiorias legislativas.

Entretanto ainda mantém uma identidade ideológica mais clara do que a da maioria dos partidos: por exemplo, tem uma disposição muito maior que a das outras grandes legendas para sobreviver na oposição –isto é, sem acesso a cargos e verbas— quando perde eleições.

Na semana passada, o podcast Dor de Coluna, do economista Pedro Faria, discutiu minha hipótese sobre o risco de o PT se tornar um novo PMDB. Faria considera que parte do PT aceitaria se tornar um grande MDB de esquerda, mas o obstáculo a este processo estaria na direita.

Ela não mais se organizaria como projeto modernizador, como durante a hegemonia do PSDB; o deslocamento do poder econômico para o agronegócio, ou para o que Mathias Alencastro chamou de "O Mega-Centro-Oeste", reforçaria o caráter reacionário da direita.

Com o esvaziamento da centro-direita, faltariam ao PT os aliados que lhe permitiriam uma conversão definitiva ao centro.

No fim das contas, se Faria me permite ilustrar seu argumento, a direita continuaria com a cara de Pazuello, que fuzilaria Quaquá na primeira oportunidade.

Esse cenário é possível, como também é possível a dissolução da identidade ideológica petista.

Mas há um terceiro cenário possível, pelo qual torço e ao qual atribuo probabilidade razoável: o PT e seus aliados podem formar um novo consenso progressista, simbolizado, por exemplo, pelas duas reformas tributárias que o governo planeja: uma que deve aumentar a eficiência econômica, outra que deve, pela primeira vez na história brasileira, usar o fisco contra a desigualdade.

Nesse cenário, Quaquá escaparia de virar nome de conceito, escaparia de ser fuzilado por Pazuello e continuaria tendo a chance de militar em um partido de centro-esquerda razoavelmente consistente. Ele e todos nós ganharíamos.

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