Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Marcos do Val entregou Bolsonaro

Não será difícil perceber que a imagem final do quebra-cabeça será do ex-presidente tentando um golpe

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O senador Marcos do Val (Podemos-ES) entregou à revista Veja conversas com o ex-deputado Daniel Silveira, de dezembro do ano passado. Nas conversas, Silveira lhe propõe participar de um golpe de Estado, coordenado por Jair Bolsonaro (PL) e mais quatro "pessoas muito importantes e relevantes", "cinco estrelas".

O senador Marcos do Val em coletiva de imprensa em seu gabinete, na quinta-feira (2), sobre o plano de Daniel Silveira - Pedro Ladeira/Folhapress

A tarefa de Marcos do Val seria tentar gravar uma conversa com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Silveira afirma que "escutas utilizadas pelas operações especiais" e "veículo receptor" já estariam disponíveis para a execução do plano.

É bom lembrar o contexto em que a conversa teria ocorrido. Jair Bolsonaro até hoje não reconheceu sua derrota na eleição presidencial de 2022. A Polícia Federal achou uma minuta do que teria sido a declaração de golpe na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres. Na véspera de Natal, um assessor que já foi lotado no ministério de Damares Alves tentou explodir um caminhão no aeroporto de Brasília.

Poucos dias depois, Anderson Torres deixou o ministério e tornou-se secretário da Segurança do Distrito Federal, indicado pelo governador bolsonarista. Logo após assumir, deixou o país e viajou para a mesma cidade americana em que estava Jair Bolsonaro. No dia 8 de janeiro, seus comandados na polícia de Brasília deixaram os golpistas destruírem a praça dos Três Poderes.

Poucos dias depois, Jair Bolsonaro rompeu seu silêncio para mentir, no Twitter, que Lula (PT) havia roubado a eleição. As Forças Armadas até hoje não se pronunciaram sobre o 8 de janeiro.

Desde que o escândalo explodiu, Marcos do Val já ofereceu versões diferentes sobre o caso.

Em uma live do MBL na semana passada, o senador anunciou que a revista Veja contaria como Bolsonaro tentou coagi-lo a participar de um golpe de Estado. A revista saiu um dia depois e dizia exatamente isso.

Mas Do Val, assustado com a repercussão, mudou sua história: na nova versão, Bolsonaro teria permanecido quieto enquanto Silveira propunha a conspiração. Ao apresentar essa versão, o senador afirmou que, na live do MBL, teria se excedido, sob impacto emocional da derrota do candidato bolsonarista à presidência do Senado.

Se Do Val citou a entrevista à Veja na live, é porque ela aconteceu antes da live. E na Veja está claríssimo que foi Bolsonaro quem convidou do Val a participar do golpe. Do Val estava emocionado na entrevista e na live? Para um sujeito que vive vestido de SWAT, o senador parece ser bastante sensível.

Além do mais, as conversas publicadas sugerem que foi Jair Bolsonaro quem propôs o plano a Do Val.

Na versão publicada na Veja, Bolsonaro, no momento da oferta de participação no golpe, teria exortado Do Val a "salvar o Brasil". Em uma das conversas com Silveira, há uma menção explícita a esse episódio: "Se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil". A paráfrase de Silveira só faz sentido se a frase do "01" tiver sido pronunciada na presença de Do Val, que só assim poderia entender a referência.

As investigações mal começaram, há muito a descobrir, e Daniel Silveira já desponta como favorito para o posto de "otário que levará a culpa no lugar dos peixes grandes". Mas é difícil olhar para as peças já encaixadas no quebra-cabeça e não perceber que a imagem final será de Jair Bolsonaro tentando um golpe.

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