Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Governo Lula

Haddad está funcionando

É preciso reconhecer que o plano do ministro da Fazenda está sendo implementado

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Fernando Haddad teve uma semana boa.

Na segunda-feira, o Ministério da Fazenda anunciou o Desenrola, programa de renegociação de dívidas de brasileiros pobres. O programa beneficiará famílias com renda de até dois salários mínimos e dívidas de até R$ 5.000 contraídas até o fim do ano passado.

Na terça, o grupo de trabalho do Congresso sobre reforma tributária entregou seu relatório. Saiu bem parecido com o a proposta do governo Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), durante evento na Fiesp, em São Paulo - Bruno Santos - 25.mai.2023/Folhapress

Como já argumentamos aqui, a reforma visa implementar no Brasil um sistema tributário parecido com o dos países desenvolvidos, baseado em um imposto sobre valor adicionado.

As projeções indicam que a reforma aumentaria a eficiência do capitalismo brasileiro, não elevaria a carga tributária total e reduziria um pouco a regressividade do sistema.

Temia-se que a reforma saísse do grupo de trabalho já desfigurada por pressões políticas, a ponto de frustrar essas projeções. Não aconteceu. Foi uma vitória do governo Lula.

O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira, cuja relação com o governo nem sempre é marcada pelo tesão embriagado do primeiro amor, declarou que a reforma deve ser votada ainda no primeiro semestre.

Considerando, além disso, que o novo arcabouço fiscal já foi aprovado na Câmara, é preciso reconhecer que o plano de Haddad está sendo implementado.

Não é fácil implementá-lo, mas não há nada no Brasil atual que seja ao mesmo tempo fácil de implementar e tenha chance de dar certo fora da cabeça de quem propõe.

Por que, entre as propostas de Lula, a agenda econômica anda mais fácil no Congresso?

As hipóteses que tenho ouvido refletem o debate sobre o funcionamento atual do presidencialismo brasileiro que discuti na coluna de 27 de maio.

Para alguns, Haddad é um negociador mais competente que Padilha ou Rui Costa. Na semana passada, inclusive, o vice-presidente Geraldo Alckmin teve que desmentir na CNN Brasil o boato de que Haddad substituiria Rui Costa na Casa Civil.

Por outro lado, uma fonte do governo já disse à jornalista Mônica Bergamo que o governo (como um todo, não só a Fazenda) está priorizando a pauta econômica em suas negociações com o Congresso, preocupado com o efeito da economia sobre suas chances de sucesso.

Finalmente, é possível que Lira e seus correligionários estejam se orientando por critérios ideológicos, aprovando pautas amigáveis ao empresariado para construir apoio para a direita na eleição presidencial de 2026.

Seja como for, parte da esquerda ainda não parece convencida pela agenda que Lula priorizou nas negociações com o Congresso.

Na votação do arcabouço fiscal, por exemplo, um grupo grande de parlamentares petistas votou "sim" sob protesto. Foi meio esquisito. O arcabouço é bom, mas suponhamos que fosse ruim: a população perdoaria quem o aprovou porque, veja bem, antes de aprovar a gente fez um manifesto?

Por outro lado, semana passada, esta Folha publicou um editorial dizendo que o governo errava na área econômica, mas que o mais importante era seu papel na normalização democrática.

Concordo inteiramente com esse ordenamento de prioridades, concordo que várias medidas listadas no editorial foram erros, mas, enfim: seja lá por qual combinação entre seus méritos pessoais, o apoio de Lula e a flexibilidade de Lira, Haddad está dando certo como ministro da Fazenda.

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