Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

PT tem que apoiar Haddad

Bons resultados dão força a ministro, que enfrenta fogo amigo e brigas difíceis

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O Brasil está crescendo mais rápido do que esperávamos. No segundo trimestre de 2023, a economia cresceu 0,9%, três vezes mais do que o mercado previa.

Com a volta de Paulo Guedes para o setor privado, era previsível que a qualidade média das previsões da Faria Lima caísse. Mesmo assim, a diferença foi grande.

Os bons resultados dão força a Fernando Haddad, que enfrentará uma série de brigas difíceis nos próximos meses.

Haddad, um homem brnaco, cabelos castanhos penteados para trás, terno e camisa cinza. Ele está sentado em uma poltrona preta, falando diante de um microfone de mesa e fazendo gesto com a mão direita
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista a jornalistas em Brasília - Adriano Machado - 31.ago.2023/Reuters

A turma de sempre vai continuar tentando piorar a Reforma Tributária. Lembre-se: de agora em diante, sempre que você ouvir "Congresso muda Reforma Tributária de Lula para que X não precise pagar impostos", é quase certo que X não será você.

O mais provável é que você seja o Y que vai ter que pagar a parte do X para fechar a conta do governo.

O que, aliás, já é verdade no caso dos fundos exclusivos. Haddad defende que esses fundos de investimento, que só estão disponíveis para quem tem muitos milhões para investir, paguem o mesmo imposto que você paga quando aplica seu dinheiro no banco.

Você tem todo o direito de não acreditar em mim, mas juro que é verdade: pela lei atual, essa turma que poderia comprar a sua casa cem, 300 vezes, paga menos imposto que você. Já parece ruim antes de você lembrar que, nesses anos todos, o governo continuou arrecadando muito dinheiro. Quem pagou a parte que os muito ricos não pagaram?

Pois é.

Além disso, Haddad enfrenta fogo amigo. O ministro da Fazenda defende a manutenção da meta de zerar o déficit primário no ano que vem. Segundo o noticiário, outros ministros acham a meta ambiciosa demais, e defendem aceitar um déficit de 0,5%.

Zerar o déficit ajudaria muito a economia brasileira. Mas depende de uma série de vitórias adicionais no Congresso. Todas essas vitórias são possíveis, a maioria delas é provável, mas ninguém pode ter certeza de que tudo acontecerá exatamente como Haddad espera.

Os céticos não são, portanto, malucos. Mesmo assim, Haddad tem razão.

Se a meta do déficit zero for abandonada, a pressão para que o Congresso aprove as medidas de aumento de arrecadação ficará menor. As expectativas dos investidores, que talvez ajudem a explicar os bons resultados atuais, podem piorar. No mínimo, se o abandono da meta for feito com excesso de leveza, já agora, sem que fique claro que o governo tentou de todo jeito ganhar as disputas no Congresso, a credibilidade da política econômica pode ser abalada.

Além disso, deve-se tomar cuidado ao atribuir as críticas de Haddad a "esquerdismo". Petistas que desistirem rápido demais da meta de déficit zero terão que admitir que pelegaram na hora de brigar para cobrar impostos dos ricos e corrigir outras distorções altamente regressivas do gasto público brasileiro.

Lembro também que em 2016 o PT não apoiou a reforma da Previdência proposta por Dilma Rousseff, enfraquecendo-a ainda mais, por medo de se dar mal na eleição para prefeito. Não teve reforma, mas o PT se deu mal do mesmo jeito e Temer era o presidente no dia da eleição.

Se a meta tiver que ser alterada no final do ano, dá-se um jeito. Mas o PT tem que bancar Haddad o máximo que puder: ele já tem adversários suficientes na direita e está entregando resultados três vezes melhores que as expectativas.

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