Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

O novo ministério de Lula

Presidente vai ter que entregar pastas para o centrão se quiser governar

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Lula deve anunciar seu novo ministério nesta semana. É possível que seja um ministério pior. Também é possível que, exatamente por isso, o governo se torne mais capaz de aprovar seus projetos no Congresso.

Quando Lula anunciou o atual ministério, achei bom demais para ser verdade. No presidencialismo de coalizão brasileiro, o presidente monta sua base de apoio no Congresso distribuindo, entre outras coisas, ministérios para os partidos que têm muitos parlamentares. A soma dos votos que os atuais ministros de Lula garantem no Congresso não é suficiente para governar no sistema brasileiro.

Eleito pela frente ampla de 2022, o governo Lula tem um perfil ideológico mais centrista do que o de outros governos petistas. Mas o Congresso atual tem maioria de partidos que apoiaram Bolsonaro por ideologia e/ou por orçamento secreto.

Lula, um homem branco de cabelo e barba branca, de semiperfil, do peito para cima. Ele sorri. No canto direito da imagem, a bandeira do Brasil.
O presidente Lula participa de cerimônia de posse do novo presidente do IBGE, Marcio Pochmann, no Ministério do Planejamento - Gabriela Biló-18.ago.23/Folhapress

A correlação de forças é o que é. Lula vai ter que entregar ministérios para o centrão se quiser governar.

Na reforma desta semana, Lula deve indicar dois ministros originários do centrão: André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). Fufuca tem grandes chances de ganhar o Ministério de Portos e Aeroportos, atualmente com Márcio França (PSB-SP). Talvez haja desmembramento de ministérios para acomodar Costa Filho. Se Márcio França for realocado em outro ministério, as mudanças em cascata podem ser ruins para a esquerda.

Torço para que seja possível evitar isso. Se eu pudesse escolher, preferiria entregar ao centrão o comando de órgãos ou autarquias que satisfizessem dentro da lei seu apetite por recursos, mas o mantivesse fora da decisão de políticas públicas.

Mas isso também é difícil, porque ano que vem tem eleição para prefeito. Quem controlar a destinação de mais verbas deve ter mais facilidade para eleger seus aliados. Não é à toa que o PT não quer perder o comando da pasta que administra o Bolsa Família. O PT está certo.

É bom lembrar que ter um Congresso eternamente conservador não reflete necessariamente as preferências do eleitorado brasileiro. A democracia brasileira foi construída, nos anos 80, com a classe política herdada da ditadura, um período de perseguição sistemática à esquerda. Os vários governos da Nova República, inclusive os de esquerda, tiveram que fazer acordos com essas máquinas políticas tradicionais para governar. Elas sobreviveram e foram as grandes vencedoras da crise política dos últimos dez anos.

Por isso, inclusive, volta e meia a centro-direita me aparece com conversa de "semipresidencialismo". É um pessoal que já desistiu de eleger presidente da República e prefere transferir o poder para o Congresso, onde a direita sempre tem maioria.

A boa notícia para Lula é que a virada ideológica do centrão pós-Bolsonaro parece estar arrefecendo. Na votação do arcabouço fiscal, por exemplo, mais da metade do PL votou a favor do governo. O PL tem cada vez mais gente que pode até ser do "P", mas, se precisar, faz o "L".

Resta torcer para que a reforma ministerial desta semana garanta a aprovação do resto da agenda de Fernando Haddad, inclusive as medidas de caráter redistributivo. Seria um sinal de que voltamos a ter, tenho até medo de dizer em voz alta e dar azar, mas, vá lá, instituições funcionando.

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