Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Bolsonaro atirou na democracia e errou; agora é a vez dela

Generais sabem que ex-presidente conspirou e o que lhes teria acontecido se o golpe tivesse dado certo

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Pelo que já vazou, os depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Baptista Júnior à Polícia Federal confirmaram que Bolsonaro lhes apresentou a minuta do golpe de Estado. Também teria partido de Jair a ordem de não desmobilizar os acampamentos em frente aos quartéis.

Vocês devem se lembrar do Jair na Paulista dizendo que antigamente golpe era tanque na rua, e agora é só "uma minuta".

Pois bem, Jair: quando você propôs a minuta aos chefes das Forças Armadas, você deu a ordem para que os tanques fossem para a rua. Se os tanques não te obedeceram, Jair, não é problema do juiz que vai te colocar em cana por tentativa de golpe de Estado.

O depoimento do general e do brigadeiro são importantes também porque enfraquecem o discurso dos políticos bolsonaristas. Eles não são Alexandre de Moraes, não são a mídia, não são de esquerda. Mas o que eles dizem prova que Jair Bolsonaro é um criminoso que tentou destruir a democracia brasileira. Eles estão mentindo, Tarcísio? Caiado? Gente do centrão que entrega comissões do Congresso para bolsonaristas?

Ex-presidente Jair Bolsonaro conversa com o então general do Exército Freire Gomes durante evento pelo Dia do Soldado - Ueslei Marcelino - 25.ago.22/Reuters

É fácil entender por que as Forças Armadas não estão bancando Jair. As investigações já deixaram claro que, se o golpe de Bolsonaro tivesse dado certo, muita gente grande entre os militares teria sido fuzilada. Freire Gomes seria o primeiro, mas não o último.

A Polícia Federal já descobriu que, durante as jornadas golpistas que começam com a derrota de Bolsonaro e seguem até o 8 de janeiro, os golpistas usavam o programa de Paulo Figueiredo na Jovem Pan (onde mais?) para "denunciar" militares que não aderiam ao golpe.

Os vídeos de Figueiredo –que é herdeiro do golpe passado, neto de nosso último ditador– são explícitos e, já que o golpe deu errado, meio cômicos: em 29 de novembro de 2022, por exemplo, no vídeo "Paulo Figueiredo fala sobre clima no Exército e cita os nomes dos generais contra o Brasil", Figueiredo afirma que o general Richard Nunes seria contra o golpe por ser de esquerda (minuto 6:20). O general Tomás Ribeiro Paiva, contrário ao golpe, teria sido responsável por fazer uma reformulação de esquerda no currículo da Aman (7:40). O general Valério Stumpf seria, acompanhem comigo, amigo de infância do AGU de Bolsonaro, que, por sua vez, virou secretário-geral da presidência do STF.

Se algum leitor de esquerda se animou com a revelação desse bando de general comuna, esqueçam. Obviamente, ninguém ali era de esquerda: Figueiredo mentiu que eram, porque estava incentivando uma insurreição contra o comando do Exército.

No dia seguinte, dia 29 de novembro (vídeo "Paulo Figueiredo fala da carta dos oficiais superiores pedindo o reestabelecimento da lei e da ordem"), Figueiredo lembrou que seu avô lhe contava que "em 64, foram os coronéis que empurraram os comandantes" (6:20).

De fato, sempre tem um coronel a fim de ser promovido quando o golpe prender o general legalista. Golpe é sempre sobre boquinha.

Enfim, muitos generais sabem que Jair não conspirou apenas contra a democracia brasileira: conspirou contra eles. Eles sabem o que lhes teria acontecido se o golpe tivesse dado certo.

E os bolsonaristas deveriam saber o que acontece com golpistas fracassados. Você atirou na democracia, filho. Você errou. Agora é a vez dela.

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