Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Eleitores têm impulso autodestrutivo e cortejam ruína dos Estados Unidos

Escolha do futuro presidente americano deveria ser clara, mas votantes dizem que não

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The New York Times

Eu tenho noção dos avisos e ressalvas sobre pesquisas feitas um ano antes de uma eleição. Entretanto, grande parte das pesquisas recentes sobre a eleição de 2024 ainda é assustadora e desconcertante.

Não deveríamos estar nesta situação. Temos um presidente que, em geral, teve um primeiro mandato bem-sucedido e desempenhou de forma competente a principal função para a qual foi eleito: devolver o país à normalidade e evitar mais danos causados por seu antecessor.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em palácio na cidade de Helsinque, na Finlândia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em palácio na cidade de Helsinque, na Finlândia - Andrew Caballero-Reynolds - 13.jul.2023/AFP

Joe Biden quase certamente concorrerá novamente contra Donald Trump, ex-presidente que enfrenta uma série de problemas legais decorrentes de suas próprias mentiras e impulsos antidemocráticos.

Portanto, a escolha no próximo ano deveria ser clara, mas os votantes continuam a dizer que não é. Os resultados de uma pesquisa do New York Times/Siena College divulgada neste mês mostraram Biden atrás de Trump em cinco dos seis estados-chave.

Uma recente pesquisa nacional da NBC News mostrou que Trump estava ligeiramente à frente de Biden. É bastante notório que os eleitores não estão satisfeitos com suas opções, mas também não estão recompensando Biden ou punindo Trump da maneira que se poderia esperar.

Pelo contrário, várias coisas parecem estar em jogo ao mesmo tempo.

Alguns eleitores exaltam uma história revisionista na qual os "destruidores" são vistos como "disruptores". Nesse contexto, nossas próprias ansiedades passadas são minimizadas.

Na visão de muitos desses eleitores, mesmo com suas evidentes falhas, Trump "não é tão ruim" e o que ele fez no cargo está cada vez mais sendo lembrado como positivo, incluindo a sacudida no establishment de Washington e no status quo político.

Para aqueles que se veem na condição de perder a fé no governo, isso pode ser atraente. Os dias de pesadelo de Trump foram de alguma maneira convertidos em dias de tranquilidade.

Nessa mesma ambientação, alguns parecem experimentar uma falsa sensação de invencibilidade. Trata-se de uma impressão desajustada, que pode ser vivida, por exemplo, depois de sobreviver a um acidente de carro, no qual você passa a ver sua fuga do pior como prova de que o perigo era menos potente do que parecia e de que você é mais resiliente do que pensava.

Contudo, a ameaça que Trump representa não diminuiu. Ela aumentou. Ele está mais aberto em relação a seus planos de alterar o país e nossa forma de governo se voltar para a Casa Branca. E, no entanto, alguns americanos simplesmente não estão percebendo essa ameaça como portadora do potencial de causar danos como obviamente pode acontecer.

Nessas mentes, parece que se o país sobreviveu a um mandato de Trump, pode sobreviver a outro. E que todos os alarmistas que afirmam que o céu está caindo, ou poderia cair, são viciados em preocupação e propensos à hipérbole.

Também há pessoas que compraram a narrativa de que Biden é velho demais para um segundo mandato. Embora eu ache que a questão da idade seja exagerada, ela claramente se instalou entre muitos eleitores e será difícil de ser superada.

Há aqueles que simplesmente não sentem os efeitos positivos da Presidência de Biden, seja na economia ou na política externa. Isso não ocorre porque o governo não teve sucessos, mas porque os cidadãos às vezes não reconhecem a fonte desses sucessos ou não os experimentam de maneiras que possam senti-los imediatamente.

Isso tem sido, entre outras coisas, uma falha massiva de comunicação. Não basta inundar os eleitores repetindo, constantemente, listas de projetos de lei aprovados, medidas tomadas e quantias alocadas ou gastas. Fazer campanha por meio de planilhas é entediante. Como as pessoas se sentem? O que elas sentem? Isso deve ser a base de qualquer apelo eleitoral bem-sucedido.

Mas a equipe de Biden não adotou essa abordagem. Em vez disso, ela se envolve em uma marcação desastrosa como "Bidenomics", a qual tenta e não consegue convencer as pessoas de que elas deveriam se sentir melhor do que se sentem. Isso porque alguns dos indicadores econômicos de primeira linha são positivos, ainda que o resultado final, para muitas famílias –o custo dos mantimentos, o valor do salário, a possibilidade de comprar uma casa– continue precário e os esforços para entorpecer esse sentimento com números podem parecer insensíveis e indiferentes.

Nas corridas presidenciais, os candidatos bem-sucedidos geralmente são aqueles alinhados com o eleitorado naquele momento. Esse foi o caso de Biden em 2020, mas não está nada claro que será novamente em 2024 –não tanto porque ele mudou e sim porque o apetite de muitos eleitores mudou.

Sim, um ano é uma eternidade na política. Biden tem tempo para reverter a situação e ajustar sua mensagem. Todavia, não deixa de ser um tanto quanto revoltante o fato de estarmos em uma posição em que temos de apostar na capacidade de Biden de se levantar e sair de um buraco grande. Certamente é uma indignação que a sobrevivência de nossa democracia possa depender disso.

Não importa se eu ou qualquer outra pessoa acreditamos que Biden merece um segundo mandato. Os americanos continuam sinalizando que não estão convencidos disso. Em algum momento, todos nós temos que ouvir mais do que falar. Temos que entender que a insistência de Biden em buscar um segundo mandato –em vez de abrir caminho para alguém da próxima geração de líderes democratas– traz um alto risco e o que está em jogo é maior do que as aspirações de qualquer candidato individual.

No momento, o eleitorado está se afastando de sua opção mais segura. Está cortejando a ruína do país. Talvez algo ou alguém consiga despertar os eleitores desse impulso autodestrutivo. Temos que esperar que sim. O preço de isso não acontecer é alto demais

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